segunda-feira, 14 de maio de 2012

Fotos da Formatura


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Guto Muniz


A Alimentação da Criança de 0 a 3 anos Um Caminho Antroposófico



Autor: Patrícia Alvarenga Ferreira






Um estudo sobre a alimentação infantil
 segundo a antroposofia.




1. Resumo:

Este trabalho aborda o tema da alimentação da criança de 0 a 3 anos sob o olhar da antroposofia, ciência espiritual criada por Rudolf Steiner no séc XIX. A proposta de resgatar uma alimentação natural e saudável focada nas necessidades de cada fase do desenvolvimento infantil é o principal assunto desenvolvido neste artigo. Trata-se de uma exposição de como os alimentos atuam formando e estruturando o corpo da criança através do amadurecimento dos sistemas metabólico, rítmico e neuro-sensorial ao longo dos primeiros anos da infância. Dessa forma propõe um caminho de reflexão sobre os prejuízos à saúde causados pela má alimentação e algumas formas de sanar este problema.

2. Introdução:

A alimentação é um tema central na vida do homem e de grande relevância na educação da criança pequena. É através dela que o ser humano obtém elementos necessários à manutenção de sua existência física no mundo. Apesar disso, constata-se atualmente que este assunto tem sido motivo de grande preocupação e angústia para pais e educadores que, cada dia mais, precisam lidar com crianças inapetentes, com distúrbios físicos e emocionais relacionados aos maus hábitos alimentares.  
Este artigo parte da constatação de uma realidade alarmante sobre a alimentação infantil no Brasil e no Mundo. A crescente oferta de alimentos industrializados, ricos em gorduras e açucares, antes mesmo dos três meses de vida, tem contribuído para o aumento em larga escala dos casos de obesidade infantil e doenças associadas como hipertensão, diabetes e colesterol alto. A obesidade infantil aumentou cinco vezes nos últimos 20 anos no Brasil. (Maysa Helena de Aguiar/2011)
Outra pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde com crianças menores de cinco anos, revelou que a anemia afeta mais de 20% das crianças no Brasil, e cerca de 17% têm deficiência de vitamina A. Segundo o Ministério, essas duas deficiências são de maior ocorrência no mundo, e podem reduzir a imunidade a infecções, além de problemas de desenvolvimento cognitivo e psicológico. (Ana Paula Pontes/2011)
Estes dados se relacionam em grande escala com a baixa qualidade alimentar que vem sendo praticada em todo o mundo, configurando um quadro de desnutrição nos países subdesenvolvidos e hipernutrição nos paises desenvolvidos, ambos com sérios prejuízos nutricionais.
Em seguida o texto aborda um caminho de reflexão e uma forma de atuação embasado na teoria científica antroposófica, fundada por Rudolf Steiner (Áustria 1861 – Suíça 1925) que desenvolveu inúmeros trabalhos práticos no campo da educação, medicina, agricultura, arquitetura etc. Steiner estudou a fundo a natureza humana e sua constituição ternária, dotada de corpo, alma e espírito.
O trabalho contextualiza a ciência antroposófica, assim como o significado da alimentação na vida do homem. Para as crianças este processo vai desde a amamentação nos primeiros meses de vida, se desenvolvendo gradativamente de acordo com o amadurecimento do seu organismo.
Para a Antroposofia, a qualidade de um alimento não está apenas no seu valor nutricional, mas também na natureza supra-sensível que ele contém. O conhecimento desta natureza é de suma importância para compreendermos como os alimentos atuam na corporalidade humana estimulando ou inibindo as forças próprias de cada individualidade.
Portanto, este trabalho pretende mostrar porque a origem dos alimentos deve ser considerada ao elaborar um cardápio. Os alimentos que consumimos deveriam vir da natureza, dos reinos mineral, vegetal e animal.  Cada um deles terá uma atuação específica na constituição ternária do homem, assim como na fase biográfica em que ele se encontra.
Finalmente será abordado questões relativas à prática educativa das crianças no que diz respeito à alimentação, aquisição de bons hábitos e eliminação de fatores estressantes na conduta dos adultos referente a este tema.



3. Justificativa:

A reflexão sobre este tema se faz urgente nos dias de hoje tendo em vista os indicadores sobre o aumento da obesidade infantil e demais disfunções metabólicas que tem surgido na primeira infância. Carências de ferro, vitaminas, cálcio, excessos na ingestão de sal e açúcar, alimentos industrializados e sem qualquer valor nutritivo, são alguns dos fatores que contribuem para a formação deste quadro. A falta de consciência por parte dos adultos, o distanciamento em relação à natureza e seus processos, o ritmo acelerado da vida moderna são alguns dos motivos que levam à configuração deste cenário desfavorável de comprometimento da saúde humana. Portanto, faz-se necessário resgatar os valores, significados e práticas da alimentação natural, ampliando as possibilidades de transformação desta realidade.
A saúde é um requisito essencial para que possamos desfrutar a vida em sua plenitude. Portanto, todas as práticas que objetivam não só a manutenção da saúde como também a prevenção de doenças devem ser encorajadas.



4. Objetivo:

Este artigo tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica do conteúdo antroposófico sobre a alimentação da criança de 0 a 3 anos e convidar todas as pessoas que lidam direta e indiretamente com elas para refletirem sobre suas implicações no desenvolvimento do ser humano. Busca conscientizar os adultos sobre a importância de escolher o alimento adequado para cada fase de desenvolvimento da criança. Pretende também construir um material de consulta para pais e educadores na tentativa de incentivá-los a adotar uma conduta mais eficaz e coerente com as necessidades nutricionais que garantem a saúde.
Durante os três primeiros anos de vida a criança constrói todo um arsenal de sensações gustativas e os hábitos alimentares que a acompanharão por toda a vida, e isso depende, em grande medida, da forma como o adulto significa e conduz as refeições da criança desde a amamentação até a introdução dos alimentos sólidos no seu cardápio diário.
Para alcançar este objetivo algumas questões serão abordadas, entre elas: como se dá o primeiro contato da criança com o alimento; a importância do aleitamento materno; fatores que interferem na boa alimentação; a refeição como base para a vida social; características essenciais de alguns alimentos; entre outros.



5. Metodologia

Este artigo foi elaborado utilizando como metodologia uma revisão bibliográfica de conteúdos acerca da alimentação infantil dentro do universo antroposófico. Foram consultados livros, revistas e outros artigos. Além disso, consultas à internet e jornais foram usados para contextualizar a problemática que gira em torno da alimentação infantil, assim como fornecer dados estatísticos sobre esta realidade.
A prática no trabalho com crianças de 0 a 7 anos, em um jardim de infância Waldorf, assim como a troca de experiência com os pais também contribuíram para a formulação de questões e pensamentos a respeito deste tema.


5.1 Contextualização Teórica

A Antroposofia, ciência espiritual criada por Rudolf Steiner (Áustria 1861 – Suíça 1925) no séc XIX, tem como uma de suas principais características a investigação supra-sensível do homem e da natureza que o cerca. Não entra em contradição com o conhecimento científico, mas acrescenta a ele um enfoque anímico espiritual buscando conhecer verdadeiramente as leis que regem o universo.
Rudolf Steiner desenvolveu seus estudos baseado na concepção do homem trimembrado e quadrimembrado. A trimembração diz respeito ao ser humano constituído de três faculdades anímicas: Pensar, Sentir e Querer com as quais ele interage e se comunica com o mundo. Para que cada uma destas faculdades anímica possa de desenvolver e existir, encontramos, no corpo físico, um sistema correspondente. São eles: Sistema Neuro-sensorial, Sistema Rítmico e Sistema Metabólico Motor.
Estes três sistemas são configurados em grande medida e amadurecem suas funções durante os sete primeiros anos de vida, e frequentemente, a atividade de um deles predomina sobre os outros. Por isso, é muito importante que o adulto esteja atento e busque educar a criança equilibrando a atuação dos três sistemas de forma harmoniosa. Nesse ponto a alimentação tem um papel fundamental.
O sistema neuro-sensorial encontra-se predominantemente na cabeça, sendo representado pelo cérebro, nervos e órgãos dos sentidos. Aqui atuam as forças da consciência relacionadas ao Pensar. Este pólo é constituído pela atuação das forças de mineralização e morte, sendo algumas das suas principais características o frio, a rigidez e a falta de movimento. Todas elas base para o desenvolvimento do pensamento.
O sistema metabólico-motor, ao contrário, encontra-se predominantemente na parte abdominal e nos membros, sendo portador da vitalidade do organismo. É aqui que ocorrem os processos de manutenção da vida como digestão, secreção, reprodução etc. Algumas características são: calor, vigor, movimento e ausência de consciência. É através desse sistema que o homem desenvolve as forças do Querer. O impulso para agir e atuar no mundo, o fortalecimento da vontade no homem, provém do desenvolvimento desse sistema.
Entre os dois pólos encontramos o sistema rítmico, representado no tórax por dois processos essenciais à vida: circulação e respiração. Este sistema, intermediário, possibilita ao homem harmonizar e encontrar equilíbrio dentro de si e em relação ao mundo. É através do Sentir que o homem avalia, por reações de agrado ou desagrado, de simpatia ou antipatia, as impressões recebidas e vivenciadas.
Quando lidamos com crianças é importante observá-las sempre com a pergunta silenciosa: “Como estão relacionados os três sistemas nesta criança:”
Podemos dizer que quando a individualidade tem dificuldade de se apropriar do sistema neuro-sensorial e de suas funções, temos uma criança, denominada pela antroposofia “cabeça grande”. Tais crianças têm a tendência de sonharem acordadas, estando afastadas das atividades terrenas que acontecem ao seu redor. Geralmente, são mais sonolentas, dispersas, pouco ligadas aos estímulos externos e mais conectadas com os processos internos, vitais, principalmente ao que se refere à alimentação. Se por um lado cultiva uma vida interior rica, cheia de imagens e sonhos, por outro, não consegue manter as informações de forma clara em seu pensamento, de forma a tê-las a disposição caso precise.
Se, por outro lado, a individualidade tem dificuldade de se apropriar do sistema metabólico-motor, estaremos diante de uma criança “cabeça pequena”. Neste caso, o sistema neuro-sensorial se sobrepõe e podemos observar uma criança extremamente sensível aos estímulos externos, ligada em tudo o que acontece ao seu redor. Geralmente estas crianças se tornam mais irritadiças, impulsivas e agitadas. Os processos metabólicos não são saudáveis, são crianças que comem de maneira voraz, apressada e irregular. O intestino também não funciona corretamente, tendendo à prisão de ventre por causa dos movimentos peristálticos preguiçosos. Parecem saber de muita coisa, mas na verdade possuem limitações da capacidade criativa e de fantasia.
Mais adiante veremos como o uso do sal e do açúcar pode contribuir para equilibrar e harmonizar a atividades desses sistemas orgânicos favorecendo o trabalho da individualidade da criança no corpo físico.
Já a quadrimembração, nos remete ao processo de materialização do universo ao longo de milhares de anos, à formação dos quatro elementos (terra, água, ar e fogo), dos quatro reinos da natureza (mineral, vegetal, animal e humano) e dos quatro corpos que constituem a natureza humana, são eles:
- corpo físico
- corpo etérico ou vital
- corpo astral ou das emoções
- Eu ou individualidade espiritual.
No presente trabalho, não entraremos em maiores detalhes a respeito da trimembração e da quadrimembração, no entanto, esta nomeclatura será utilizada para trazermos o tema da alimentação sob um olhar antroposófico.




5.2 A Alimentação na Antroposofia

A alimentação, segundo a antroposofia, é uma expressão do desenvolvimento da humanidade e de sua consciência. Ela foi desenvolvida ao longo de milhares de anos, assim como os nossos sentidos, para que o homem pudesse lidar com a matéria do mundo no qual se encontra inserido. Diz que quando o homem come, ele coloca o mundo para dentro de si, coloca matéria para dentro de si, assumindo desta forma, também um corpo físico perecível e degradável.
Na medida em que a humanidade se desenvolveu, os corpos (físico, etérico, astral e Eu) estabeleceram entre si formas de relações, onde o funcionamento de um interfere e depende do funcionamento do outro e vice-versa. Quando, ao longo de sua evolução, o homem começou a ter consciência de si mesmo o corpo astral passou a ter uma ação catabólica e de desgaste sobre os corpos físico e etérico. O pensamento consome energia, e esta realidade fez com que o homem precisasse encontrar formas de restaurar, de repor sua vitalidade. Esta é uma das principais razões pela qual precisamos nos alimentar. 
Para a antroposofia, a relação que o homem estabelece com o alimento é também um indicador, uma medida da vontade que ele tem de fazer parte deste mundo. A maneira como nos alimentamos fortalece em maior ou menor medida o funcionamento do corpo e o equilíbrio geral do organismo. Trás mais ou menos vitalidade, sobrecarrega mais ou menos o metabolismo, enfim trás maior ou menor saúde e bem estar ao indivíduo. Os alimentos atuam no organismo humano trazendo qualidades e características inerentes à sua natureza que precisam ser catabolizadas e transformadas dentro do nosso corpo. Para que isso ocorra é preciso “acordar” no homem uma “força” correspondente ao alimento ingerido. Nós não absorvemos diretamente a vitalidade do alimento, mas geramos vida em nós a partir de uma ação de oposição às substâncias ingeridas.
“Não comemos para ter em nós este ou aquele alimento, mas sim para podermos desenvolver em nós as forças que triunfem sobre o alimento. Comemos para resistir às forças da Terra e vivemos sobre ela graças a esse contínuo ato de oposição”. (Rudolf Steiner).
A alimentação é uma atividade ampla e complexa que exige que toda a natureza humana se envolva no processo de digestão e absorção dos alimentos. Isso nos remete a um fato de suma importância: o homem não nasce “pronto”, ele precisa de tempo para tornar-se um ser livre e autônomo, em vários aspectos. A criança, quando nasce, não conta com os corpos físico, etérico, astral e Eu funcionando em toda a sua plenitude e autonomia. Estes são desenvolvidos ao longo dos primeiros 21 anos de vida, período em que se educa uma individualidade através do exemplo e do cuidado fornecidos por outro ser humano.
Dos 21 aos 42 anos, a individualidade completamente encarnada no corpo físico passa a se auto-educar e após os 42 tem início um outro processo caracterizado pelo afastamento da dimensão material.
Considerando esta colocação, concluímos que a alimentação do homem deve acompanhar a fase biográfica em que ele se encontra. Os alimentos devem ser usados e pensados de acordo com as necessidades do organismo da criança, do adulto e do idoso, uma vez que ela existe para servi-los.
Em relação às crianças isto é bastante sério. Como foi dito anteriormente, a individualidade precisa de 21 anos para amadurecer e tomar posse do seu próprio corpo. É só a partir daí que ela age com plena consciência de si mesmo e de seus atos.  
Portanto, quanto menor é uma criança, mais entregue, ela se encontra das escolhas que os adultos fazem por elas. Escolhas estas que atuarão na construção do seu corpo e da sua saúde por toda a vida.


5.3 O primeiro alimento da criança: O leite materno

Antes do nascimento, a criança encontrava-se completamente envolvida e protegida pelo ventre materno. É admirável verificarmos quantos envoltórios protegem o embrião:
- o líquido amniótico, no qual o feto nada durante todo o período de gestação lhe garante uma confortável sensação flutuante, protegendo-o contra solavancos e empurrões vindos do exterior, assim como o amortecimento dos seus próprios movimentos dentro da barriga da mãe.
- o útero, um órgão muito especial e singular capaz de moldar-se para abrigar uma nova vida em seu interior. Este grande músculo encontra-se suspenso por diversos ligamentos dentro da estrutura óssea da região ilíaca da mãe abrigando o feto até o momento em que iniciam as contrações que ajudarão na expulsão do bebê. O útero é capaz de concentrar as forças oriundas do plano supra-sensível permitindo-lhe criar e estruturar sua forma humana no plano material.
- Um outro envoltório são as vísceras da mãe, especialmente as alças intestinais, que além de proporcionarem o calor oriundo do metabolismo, funcionam como amortecedor para o útero da gestante.
- Por último temos a parede abdominal com suas diversas camadas e a pele formando uma delimitação que proporciona estabilidade e calor. Todos esses envoltórios protegem o pequeno ser enquanto se forma e desenvolve no ventre materno.
Então a criança nasce, e de repente, todos eles desaparecem. O corpo da criança acha-se nu e totalmente desprotegido fora do corpo da mãe. Um novo mundo lhe é apresentado, a criança vivencia as mudanças de tempo, espaço, peso e temperatura ao seu redor. A luminosidade, os ruídos, os cheiros e os toques penetram na alma da criança pela primeira vez trazendo vivências de dor, medo e insegurança diante das profundas transformações.
Com a primeira inspiração o ar penetra nos pulmões fazendo com que a criança chore e neste instante dois mundos (anímico-espiritual e o físico-terreno) se unem num só corpo. A individualidade adentra o mundo material e se submete às leis que aqui vigoram. O corpo precisará se adaptar a muitos processos para manter-se vivo, entre eles a ALIMENTAÇÃO.
Segundo a Dr Gudrun, durante a gravidez a alimentação do feto tem características primitivas, ocorrendo através do ambiente, dos invólucros que citamos acima. Com o nascimento, e principalmente após o corte do cordão umbilical, desfaz-se também a ligação concreta, material do bebê com a mãe e o alimento materno vai entrar como elemento importantíssimo. No processo de adaptação ao novo mundo, o LEITE da mãe é tudo que restou do abrigo anterior que fora o ventre materno. A partir de agora é como se “A mãe toda vivesse no leite”, como cita Rudof Steiner. O leite além de ser a composição alimentar ideal para a criança, possibilita a transição do plano espiritual para o plano terrestre. Junto com ele o calor humano, físico e anímico que se manifesta no ato de amamentar vai formar o novo invólucro de segurança e proteção para a criança.
Rudolf Steiner ainda nos chama a atenção para o fato de o leite trazer em si as forças vitais cósmicas capazes de despertar pouco a pouco o espírito que dorme na criança. A amamentação é, por isso, considerada o primeiro meio de educação e o veículo para que o ser celestial se torne terrestre. Este período é um tempo sagrado de sublimes acontecimentos no que diz respeito à encarnação da criança e só passado algum tempo o educador (mãe, pai) será capaz de continuar atuando sobre a volição da criança de forma a despertar cada vez mais este espírito adormecido (consciência).
O bebê que é colocado logo após o parto em contato com a mãe procura instintivamente pelo seio e suga-o com muita força e determinação. Essa primeira sucção é a mais forte que existe e estimula a formação e a descida do leite. A criança que, logo após seu nascimento, não tem a oportunidade de sugar o seio materno pode ter comprometido todo um caminho de amamentação, visto que, após algumas horas o reflexo de sugar do recém nascido diminui drasticamente se não for estimulado.
Nos primeiros dias a substância que a criança ingere ao mamar é denominada COLOSTRO. O colostro tem a cor amarelada e transparente, e apesar da pequena quantidade, alimenta e protege o bebê contra infecções nos primeiros dias de vida. Isso porque tem maior concentração de proteínas e anticorpos que o leite propriamente dito e ainda estimula o intestino da criança a se desenvolver. Ele é suficiente para manter a criança nutrida até a descida do leite por volta do terceiro ou quarto dia de vida.
Após a descida do leite mãe e filho vão precisar de um tempo para se adequar à nova rotina. No início, a quantidade de leite produzida é maior que a necessidade da criança. É recomendável que o leite excedente seja retirado por ordenha manual até que o corpo da mãe aprenda a produzir somente a quantidade necessária para a sua criança.
Um outro aspecto importante em relação à amamentação diz respeito à freqüência com que a criança tem acesso ao peito. Atualmente, é recomendação do ministério da saúde que a criança seja alimentada no peito sempre que manifestar essa vontade, sem horários fixos para iniciar, nem para terminar cada mamada. Essa recomendação ficou bastante conhecida pelo nome de “livre demanda”.
Por outro lado, a falta de ritmo em relação aos hábitos alimentares pode ter sua origem neste período. As exigências da vida moderna, principalmente nos grandes centros urbanos tem tornado um grande desafio para o homem encontrar ritmos de trabalho, de lazer, de sono e de alimentação. Todas as funções vitais do nosso organismo, no entanto, são rítmicas. A saúde e o equilíbrio do indivíduo são baseados no ritmo e pequenos distúrbios desses ritmos vitais têm levado o homem a sofrer das mais diversas patologias, tais como o próprio câncer. Assim, na antroposofia, encontramos referências para que as mães busquem estabelecer, ao longo dos primeiros meses de vida, uma rotina de amamentação saudável e de acordo com a necessidade da criança, criando desde cedo hábitos regulares nos horários de alimentação. Na verdade, a própria criança, na medida em que se desenvolve cria um ritmo próprio de alimentação para o qual a mãe deve estar atenta e respeitá-la.
É possível que surjam algumas dificuldades durante o período de aleitamento materno como: ferimento dos mamilos, empedramento do leite, sensação de que o leite não é suficiente para satisfazer a fome da criança e outros. Todas essas questões podem ser contornadas se a mãe buscar as informações corretas em relação à amamentação.
Algumas dicas, retirados do material elaborado pelo Dr Coríntio Mariani Neto (Corintio 2010) serão destacadas aqui:
- O leite materno é o alimento ideal nos primeiros seis meses de vida, pois contem todos os nutrientes necessários para garantir o melhor crescimento e desenvolvimento do bebê. Nenhum outro complemento é necessário, nem mesmo água ou chás durante este período.
- Protege contra doenças, principalmente diarréias, alergias e infecções, sendo por isso considerado a “primeira vacina” da criança.
- O leite materno é digerido com mais facilidade e é melhor aproveitado que o leite industrializado. Além disso, a eliminação de seus resíduos não sobrecarrega o organismo do bebê, como acontece com o leite de vaca.
- É limpo e não contém micróbios, está sempre pronto e na temperatura adequada.
- Sugar o peito exige um grande esforço por parte da criança contribuindo para o desenvolvimento sadio do maxilar, correta formação da arcada dentária, boa deglutição, desenvolvimento posterior da fala e correta respiração.
- É a sucção do bebê que desencadeia e mantém a produção do leite, portanto, quanto mais ele sugar, mais leite será produzido.
- Não existe leite fraco. O leite materno é o ideal para o bebê e toda mãe é capaz de produzi-lo. Para isso a mãe deve ingerir muito líquido, cuidar da sua alimentação e do seu estado emocional. A tranqüilidade e confiança da mãe em relação à amamentação parecem interferir decisivamente na produção do leite.
Segundo a médica e escritora antroposófica Gudrun Burkhard as peculiaridades do gosto do leite materno fará com que gradativamente se desenvolvam as papilas gustativas do neném. Ao contrário dos leites industrializados e preparados que revelam sempre o mesmo gosto, o leite materno apresenta uma diversidade de aromas e sabores à criança que, sendo assim, desenvolve maior disposição e abertura para experimentar novos alimentos futuramente.

5.3.1 O Desmame

O desmame também é muito importante e deve ser feito com calma e consciência pela mãe. A recomendação do Ministério da Saúde é que o aleitamento materno seja exclusivo até os seis meses de idade, podendo ser continuado até o segundo ano de vida ou mais, se assim a criança e a mãe desejarem. Para a antroposofia, o aleitamento materno deve ocorrer até os sete meses, podendo se estender até um ano, quando então a criança deve ser desmamada, pois do contrário ela se liga demasiadamente à corrente hereditária dos pais e da família. Essa ligação excessiva pode passar a satisfazer outras necessidades (por exemplo, emocionais) e dificultar que a criança desenvolva sua autonomia e capacidade de dar continuidade ao processo de apropriação do próprio corpo. Durante os sete primeiros anos a criança lida com uma importante tarefa, segundo Rudolf Steiner, que é a de transformar toda a constituição física herdada em uma nova constituição sintetizada a partir da sua própria força individual. As febres infantis (aumento da temperatura corporal) são revelações dessa transformação acontecendo no organismo.

5.3.2 A Utilização de Bicos Artificiais

De acordo com o material produzido pelo Dr Corintio Mariani (Corintio 2010) a introdução de qualquer bico artificial (mamadeira, chuca, chupeta) deve ser evitada a todo custo, pois interfere na sucção do bebê contribuindo para o desmame precoce.
A mamadeira, em especial, é considerada um grande vilão da amamentação. A criança que tem contato com a mamadeira vivencia um fenômeno conhecido como “confusão de bicos”. Como não é necessário fazer o mesmo esforço para que o leite saia da mamadeira, a criança passa a sugar menos o peito o que diminui a produção do leite e rapidamente a mãe tem a impressão de que o leite do peito não é mais suficiente para alimentar a criança. Além disso, o uso da mamadeira está sendo hoje atrelado ao aumento do índice de obesidade infantil por contribuir para uma menor capacidade de auto-regulação do apetite. Isso significa que os bebês alimentados com mamadeira desde cedo apresentam maior dificuldade de sentir saciedade da fome, segundo revela uma pesquisa feita com 1250 bebês nos EUA pelo Centro de Controle e Prevenção de Doeças (CDC).
Existem dois problemas básicos que giram em torno do uso da mamadeira. O primeiro diz respeito à anatomia e design desses instrumentos que não são adequados às necessidades da criança. Por mais ortodônticos que sejam, os bicos das mamadeiras interferem na formação da arcada dentária, induzem a criança a mamar mais do que ela necessita (devido à maneira passiva como o líquido é absorvido), são de difícil higienização, contribuindo para o aumento de infecções na garganta e no trato intestinal e desestimulam o aleitamento materno. O segundo diz respeito ao que é colocado na mamadeira para alimentar a criança. Atualmente, o uso de farinhas e açucares para engrossar e adoçar o leite tem sido cada vez mais oferecido pelos pais. Estas combinações, no entanto, levam os pais a uma falsa crença de que seus filhos se alimentam melhor. Por um lado, as crianças ingerem maior quantidade de leite (que apresenta sabores doces e “gostosos”) por outro os preparados são verdadeiras bombas calóricas que não oferecem os nutrientes adequados e necessários à criança, principalmente se usados antes dos seis meses de idade. Além disso, todas estas fórmulas que dizem substituir o leite materno, preparados de leite em pó enriquecidos de vitaminas, minerais etc são sintetizados artificialmente, sendo, portanto, desprovidos da vitalidade encontrada no leite materno como já mencionado anteriormente.
Quando, por algum motivo, não for possível o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade faz-se necessário partir para uma alimentação artificial.
Segundo descrito no livro “Consultório Pediátrico” de Wolfgang Golbel e Michaela Glockler esta deverá ser o mais natural possível, dando-se preferência aos leites naturais e não aos leites em pó ou condensados. Devido às diferenças em sua composição e alto potencial alergênico, o leite de vaca deverá ser dado seguindo um criterioso esquema de diluição e preparo que pode ser consultado no livro descrito acima pág. 268.
Se for preciso acrescentar a alimentação artificial ao aleitamento materno seria interessante que a primeira fosse oferecida em copinhos apropriados ou colheres de chá para não desestimular a amamentação natural. Após o desmame os outros alimentos líquidos como chás, sucos, água também deveriam ser oferecidos na forma mencionada acima com a supervisão de um adulto para que a criança não se habitue a tomar mamadeira desnecessariamente.

5.4 A Introdução dos Alimentos Sólidos

Passado o período dedicado ao aleitamento materno exclusivo é chegada a hora de a criança começar a experimentar outros alimentos necessários para o seu desenvolvimento.
A introdução desses novos alimentos deve ser gradual (no máximo um novo alimento por semana, a fim de que o organismo da criança se prepare para digeri-los e a mãe observe possíveis pré-disposições alergênicas) e respeitar o estágio de desenvolvimento que a criança se encontra. Segundo a antroposofia, a dieta da criança pequena deveria ser inicialmente lacto-vegetariana (constituída de frutas, legumes, cereais, leite e seus derivados) e só a partir dos 3 anos, alimentos de origem animal deveriam ser oferecidos de acordo com as características e as necessidades da criança. Sobre este assunto falaremos mais tarde.
Alimentos industrializados devem ser evitados a todo custo, pois roubam força do organismo que precisa despender mais energia para reelaborá-los interiormente. As crianças devem receber alimentos plenos de vida, os mais naturais possíveis e adequados à sua faixa etária. Com o intuito de contribuir para um maior esclarecimento desses alimentos e como eles devem ser oferecidos à criança selecionamos alguns de maior importância para discutir neste trabalho. Abordaremos principalmente seu caráter qualitativo e como eles atuam no organismo da criança, separando-os, desta forma, de acordo com sua natureza (mineral, vegetal ou animal).

5.4.1 O Reino Mineral:

O reino mineral está sujeito às leis físico-químicas, válidas apenas para o mundo físico, material. Nele valem as leis da gravidade, peso, medida e massa, enfim, o elemento quantitativo. Em tempos passados da Terra, este reino ainda não tinha a forma atual, os minerais possuíam outras consistências que não a que conhecemos hoje. Atualmente eles representam, segundo Rudolf Steiner a imagem morta do cosmo. É nele que encontramos o estado final da matéria, a substância. Aqui não existe crescimento, regeneração, vida. (Novos Caminhos de Alimentação, vol. 1, pág 16).

O Sal

O sal é o maior representante deste reino na nossa alimentação. Trata-se de um cristal, um elemento ligado às forças de mineralização da Terra. É uma substância desprovida de vida e utilizada como condimento no preparo dos alimentos. Antigamente, era muito usado na conservação das carnes.
Segundo a antroposofia, sua atuação no organismo humano se relaciona com as forças de encarnação e de desenvolvimento da consciência.
Quando estamos diante de uma criança onde o sistema neuro-sensorial precisa ser estimulado, ou seja, de uma criança cabeça grande, o uso do sal poderá ser indicado como medida terapêutica. A sua atuação fortalece as forças do Pensar fazendo com que a individualidade se ligue mais profundamente ao mundo terreno.

O Açúcar

O açúcar será tratado aqui, por sua elevada propriedade de cristalização e mineralização, semelhante a do sal, no entanto trata-se de um alimento proveniente do reino vegetal.
A introdução dessas duas substâncias na alimentação do homem também acompanhou o caminho de desenvolvimento da humanidade. O açúcar foi utilizado primeiro, através do cultivo da cana de açúcar por volta de 8000 e 5000 a.C. Este é formado nas partes verdes do vegetal, sendo armazenado em raízes, folhas, caules, flores ou frutos sob a forma de amido ou frutose. É uma reserva de energia para o homem, que pode utilizá-lo sem ter de efetuar um trabalho digestivo, o que acontece quando o ingerimos em sua forma industrializada e refinada. Neste ponto, trata-se de uma substância que não estimula a atividade vital dos órgãos como os vegetais frescos, mas substitui, no organismo, uma substância que este é capaz de produzir por si em quantidades suficientes quando goza de plena saúde. As qualidades do ácido, do salgado e do amargo possuem todas elas uma característica mais agressiva, estimulante. O doce, ao contrário, consola, reconforta, envolve, tranqüiliza e dá apoio: também fortalece nossa auto-percepção de modo imediato, e faz com que nos sintamos mais fortes e dispostos em nosso corpo. Esse efeito provoca a tendência à freqüente repetição da ingestão de açúcar. Sentimos o prazer do acréscimo momentâneo de força, sem perceber a instalação do mau hábito, a perda energética que se segue e que tentamos compensar novamente com uma quantidade maior de açúcar.
Atualmente, sofremos de um consumo crescente e exagerado de açúcar que começa a deixar suas marcas na saúde da civilização moderna com o aumento incisivo, sobretudo, da cárie dentária, do diabetes e da obesidade. Estudos revelam que o aumento no consumo de açúcar passou de 28g por pessoa em 1900 para 150g por pessoa nos dias de hoje (Novos Caminhos de Alimentação, vol 1, pág 138).
Na alimentação das crianças devemos evitar o uso do açúcar branco, uma vez que os processos de refinamento e industrialização roubam-lhe toda a força vital eliminando os sais minerais, vitaminas e microelementos que dão suporte à atividade própria do organismo de elaborar o seu açúcar a partir do amido. Quando isso acontece estamos substituindo o exercício da atividade metabólica na criança pela oferta de uma substância de rápida absorção que causa dependência e consequentemente predisposição a uma série de enfermidades, como já foi explicado anteriormente.
O mais indicado seriam preparados de cana integral, que podem ser obtidos em casas especializadas de produtos naturais. O açúcar mascavo industrializado também passa por processos não recomendados, apenas os últimos passos da purificação deixam de ser realizados. A lactose só é útil na fase de lactente, pois tem menor poder adoçante. A frutose normalmente não tem vantagens. A glicose leva a um aumento rápido da glicemia, pois não precisa ser digerida, por isso é recomendada apenas em alguns casos específicos. O mel é recomendado após 1 ano de vida e em quantidades moderadas, uma colher de chá por dia misturada aos alimentos.
O ideal é que o organismo seja incentivado a elaborar o açúcar de que necessita através da ingestão de vegetais e cereais. A vontade de comer doce deveria ser suprida, sempre que possível, pela ingestão de frutas (secas e naturais).
Quando estamos diante de uma criança onde o sistema metabólico-motor precisa ser estimulado, ou seja, de uma criança cabeça pequena, o uso do açucar poderá ser indicado como medida terapêutica. A sua composição altamente energética estimula o funcionamento do metabolismo e fortalece o Querer trazendo vitalidade para o organismo da criança.



5.4.2 O Reino Vegetal:

Quando tratamos do reino vegetal, a substância passa a obedecer também à outras leis. Podemos dizer que a planta é a imagem viva do cosmo. Bircher Benner apontou para o elemento qualitativo na alimentação dizendo: “Todos os valores nutritivos, independentes de sua denominação – proteínas, gorduras, hidratos de carbono, minerais ou vitaminas – são, em sua essência, tons ou cores da luz do sol”. A planta é o resultado da interação entre as forças físicas terrestres e as forças etéricas, cósmicas. Ao mesmo tempo que se ligam à terra, acolhendo desta água e minerais; crescem em direção ao sol de onde recebem calor e luz, dependendo dos dois pólos para se desenvolverem.
Explicar um pouco antes de colocar a citação
 “Do ponto de vista alimentar, interessa-nos a relação tríplice da organização humana e das plantas. Poderíamos dizer que no homem encontramos a planta invertida, pois o processo radicular (das raízes) tem a ver com o nosso sistema neuro-sensorial, o sistema da haste e das folhas com o sistema rítmico, e o processo da flor e do fruto com o sistema metabólico”. (vol 1 pag 40).   
Na raíz encontramos os processos de absorção dos minerais responsáveis pela estruturação e forma específica de cada vegetal. Daí partem os impulsos endurecedores da planta. A raíz absorve os minerais desgastando a terra ao seu redor, assim como o cérebro capta seletivamente os pensamentos desgastando substância viva (queimando energia) no interior do nosso corpo.  Nas folhas se passam os processos de fotossíntese troca gasosa com o ambiente, assim como no homem o sentir se relaciona com essa esfera mediana e de troca com o mundo. No caule os processos de crescimento e repetição rítmica se assemelham à disposição de nossas costelas em relação às vértebras da coluna.
Por último, nas flores e nos frutos encontramos a região onde se passam as profundas mudanças metabólicas da substância, tais como a formação de açucares, óleos, proteínas e vitaminas. Essa é também a região mais quente da planta, calor semelhante ao encontrado no sistema metabólico motor. Tanto em um como no outro acontecem também os processos ligados à reprodução.
Sendo assim, a ingestão de raízes atuará sobre o sistema nervoso humano, a ingestão de caules e folhas sobre o sistema rítmico e a ingestão de flores e frutos sobre o metabólico motor. Isso deve ser considerado ao pensar a alimentação desde os primeiros anos de vida, na tentativa de harmonizar o corpo através daquilo que ingerimos.

Frutas

Gudrun Burkhard fala em seu livro Novos Caminhos de Alimentação que as frutas são as maiores fontes de vitaminas encontradas na natureza. Quando atingem seu grau de maturidade, principalmente se colhidas na época certa, concentram o máximo de forças vitais em seu interior. No homem atuam especialmente sobre os processos formativos do sangue, renovando-os constantemente, e também sobre a circulação. Ativam os processos metabólicos e de calor do nosso organismo, estimulam o peristaltismo intestinal e é considerada uma vitalizante primordial do organismo devido à concentração de vitamina C (Burkhard 2009).
Segundo Dr Darlan Ferreira, em palestra proferida no curso de formação em pedagogia waldorf de Belo Horizonte, é recomendado iniciarmos a oferta dos alimentos às crianças pelos sabores adocicados encontrados nas frutas. É importante cuidar para que estas sejam bem lavadas e de procedência conhecida, preferencialmente orgânica, uma vez que pela primeira vez o organismo da criança vai entrar em contato com outras substâncias e a ingestão de agrotóxicos, pesticidas, bactérias e outros, poderiam ter uma ação devastadora no organismo infantil.
A fruta cozida ou assada é indicada para facilitar a digestão no princípio, em seguida podemos oferecer em forma de sucos (laranja serra d’água), amassadas (banana, mamão) ou raspadas (maça, pêra)
Após os primeiros experimentos, passamos a preparar uma papa mais consistente e nutritiva que apresenta em sua composição os seguintes elementos:
- Uma fruta cozida ou assada (banana, pêra, maçã...)
- Um cereal integral cozido (arroz, aveia, trigo, cevada...)
- Uma oleaginosa (castanha do pará, avelã, amêndoa, nozes) ou uma colherzinha de azeite.
- Uma outra fruta da época que não precisa ser cozida.
- Pode-se ainda acrescentar ameixa preta ou damasco, cozidos e algum derivado de leite.

Legumes e Verduras

Após ter se habituado às papas doces, introduzimos na alimentação da criança a papa salgada. Os legumes e verduras são reconhecidos pela sua ligação com as diversas forças da natureza viva e fornecem toda uma riqueza de sais minerais e micronutrientes ao organismo humano.
Alguns cuidados devem ser tomados no preparo das papas salgadas como por exemplo o tipo de panela utilizado (as de alumínio e de pressão devem ser evitadas), a quantidade de água adequada e o tempo de cocção de cada elemento. Raízes levam mais tempo para cozinhar do que folhas e frutos. As sopinhas ou papas devem ser acrescidas de algum cereal integral e uma pequena quantidade de gordura: meia colher de chá de manteiga, óleo de girassol ou azeite de oliva.

Cereais

Os cereais começaram a ser cultivados na antiga civilização persa, em torno de 5000 a.C e desde então formaram a base da agricultura dando à humanidade novas condições de vida e moradia. Do ponto de vista qualitativo os cereais distinguem-se pelo fato de estarem sujeitos a uma exposição particularmente intensa e direta à luz solar. Caracterizam-se ainda por permear intensamente a terra com suas raízes unindo-se firmemente com o elemento mineral. Possuem a peculiaridade de não dispersar suas sementes, mas de mantê-las unidas em forma de espigas. Essas espigas são sustentadas pela planta tal qual uma coroa real, essa força de sustentação tem ligação direta com o ser humano, ajudando-o a erguer-se e adquirir a posição ereta no mundo, o que sabemos tornou-se a expressão do Eu, da individualidade humana na Terra.
“Para os povos antigos, o ato de semear e colher os cereais eram acompanhados de rituais sagrados – os grãos eram o presente do Deus Pai e da Mãe Terra. De fato, as gramíneas (cereais) são as plantas em que as forças da terra e do sol estão em equilíbrio” (vol 2 pag 124). É exatamente por este motivo que atuam nos três sistemas do corpo humano: metabólico-motor, rítmico e neuro-sensorial, ativando todo o organismo do homem em equilíbrio. Como possui forte relação com a terra e com o elemento mineral carrega em si alto teor de silícea que serve de intenso estímulo ao sistema nervoso e órgãos dos sentidos. Rudolf Steiner descreve em sua “Filosofia da Liberdade” que o pensar vivo só pode ser incentivado pela ingestão de cereais integrais. A atuação do açúcar no cérebro também só é saudável quando este vem acompanhado pelo complexo de vitamina B, encontrado na cutícula dos cereais. Caso contrário, quando o açúcar puro entra no organismo, ele cai rapidamente na corrente sanguínea e o cérebro fica exposto ora a um excesso de açúcar, ora a sua falta, não podendo desempenhar suas funções de forma correta e equilibrada.
Todo o metabolismo também é estimulado pela ingestão de cereais integrais. Sua alta taxa de hidratos de carbono é transformada em amido e glicose. A queima da glicose produz o calor necessário para a atividade muscular, os músculos são os instrumentos de nossa volição e atuação na Terra. O fígado é estimulado, pois lá a glicose é transformada em glicogênio. Os dentes são intensamente ativados através da mastigação, assim como as secreções glandulares e salivares. A película dos cereais, rica em vitaminas, proteínas, sais e semicelulose atuam no peristaltismo do estômago e intestinos. Também no sistema rítmico, os cereais desempenham um papel importante, fortificando coração e pulmão. O magnésio encontrado na película atua diretamente sobre o funcionamento do coração, organizando o ritmo cardíaco. Também o ferro, tão importante para o sangue e a oxigenação, é abundante no grão. Rudolf Steiner numa palestra dada no Goetheanum disse: “O coração é luz condensada e é estimulado pela alimentação rica em luz”, como vimos, trata-se dos cereais integrais.
A importância de ser integral refere-se à capacidade de ativar profundamente o metabolismo do corpo, dando suporte a uma integração harmoniosa das suas funções. Quando ingerimos produtos processados as vitaminas, sais minerais e demais micro-elementos são indistintamente eliminados, restando muitas vezes apenas o amido. Em função disso, obtem-se um produto parcial, altamente refinado, e ainda modificado por uma série de aditivos químicos (conservates, corantes, etc) que o processo de industrialização lhe acrescentou. Para metabolizar tal produto o organismo precisa fazer uso de suas próprias reservas de vitaminas, sais minerais e microelementos.
Em função disso, recomenda-se que a alimentação da criança seja rica em cereais integrais. Estes podem ser oferecidos por volta dos sete meses, nas papas de fruta ou salgada como já foi citado. É importante que sejam bastante cozidos no princípio para auxiliar no processo digestivo da criança que ainda está em formação. Além disso, os cereais apresentam correspondências com as qualidades planetárias que determinam as qualidades de cada dia da semana. Rudolf Steiner em suas palestras sobre agricultura biodinâmica, sobre medicina e sobre antroposofia geral refere-se a essas forças planetárias e sua atuação sobre o Homem, sobre a Terra e sobre os reinos da natureza. Estaremos estimulando o nosso organismo se procurarmos nos alimentar com a maior variedade possível de cereais. Segue abaixo a correspondência entre os cereais e os dias da semana:


Trigo          Sol          Domingo
Arroz         Lua          Segunda
Cevada      Marte       Terça
Painço       Mercúrio  Quarta
Centeio     Júpter        Quinta
Aveia        Vênus        Sexta 
Milho         Saturno    Sábado


5.4.3 O Reino Animal:

Nos animais há um novo complexo de forças. Além da vida, existe agora elementos como sensação, locomoção no espaço, instintos (de sobrevivência, nutrição ou reprodução). Trata-se da incorporação de uma nova entidade, denominado por Rudolf Steiner de corpo astral. A substância não é apenas vitalizada como no reino vegetal, mas agora também astralizada, adquirindo, portanto, qualidades e forças formativas diferentes do vegetal.
No reino animal tem início os processos de anabolismo e catabolismo. O primeiro lida com forças construtoras que formam substâncias vivificantes e regeneradoras. O segundo lida com forças de desgaste e destruição, gerando assim, produtos de excreção que quando não eliminados tornam-se tóxicos para o organismo.

Carnes

A utilização de carnes no cardápio infantil é bastante discutida e existem controvérsias a seu respeito.
Quantitativamente, a carne é descrita como uma das principais fontes de proteínas que conhecemos, além de ser rica em nutrientes como lipídeos, vitaminas (complexo B) e minerais (como ferro e zinco). As proteínas são fundamentais para o funcionamento do nosso corpo, pois é a partir delas que sintetizamos as nossas próprias proteínas durante o crescimento e a renovação dos tecidos.
Segundo o especialista Pedro Eduardo de Felício, membro do comitê técnico do SIC (serviço de informação da carne), a proteína da carne é a mais completa por apresentar um perfeito equilíbrio de aminoácidos essenciais, isto é, aqueles que o corpo humano não sintetiza a partir dos demais e que, por isso, devem estar presentes nos alimentos ingeridos. Outros produtos de origem animal, como os ovos ou o leite e seus derivados, também são fontes de proteínas completas. Já as proteínas encontradas nos alimentos de origem vegetal são deficientes em um ou mais aminoácidos essenciais e, portanto, devem ser consumidas em combinação com cereais e leguminosas.
Qualitativamente, a antroposofia trás um olhar um pouco diferente. De acordo com Goebel e Glockler no livro “Consultório Pediátrico” (2001), desde que tornaram-se conhecidas certas doenças de deficiência protéica, causada pela falta de certos aminoácidos essenciais, passou-se a dar uma atenção muito grande ao consumo destas. Esses componentes protéicos especiais são encontrados em abundância nos produtos de origem animal, mas também podem ser encontrados (em menor quantidade) nas leguminosas, amêndoas e nozes.
O leite materno é um alimento com baixo teor protéico (cerca de metade do leite da vaca) e é o alimento ideal para a primeira fase de vida. Acredita-se que o consumo de proteínas (principalmente as de origem animal) deva ser introduzido na alimentação da criança com parcimônia e gradualmente. Sendo assim, a autora propõe que se siga com o modelo de nutrição oferecido pelo leite materno até pelo menos os três anos de idade. As proteínas durante essa fase deveriam provir de outros alimentos tais como os cereais integrais, as leguminosas e os derivados de leite. Após os três anos, quando desponta na criança os primeiros lampejos de auto-consciência, também se manifesta de modo mais intenso o instinto individual para este ou aquele alimento. Neste caso, a carne poderia ser introduzida de acordo com as características e a necessidade da criança.
Nos países da América Latina, o consumo de carne é muito elevado, naturalmente torna-se mais difícil e trabalhoso para os pais organizar um cardápio com restrição de carne para as crianças, pela simples falta de hábito e informação.
A carne vermelha, ao contrário do leite, é permeada pelo sangue do animal o que faz dela um alimento altamente comprometido com as forças da matéria. Na história, o consumo de carne se deu na medida em que o homem se distanciou do mundo espiritual e se conectou com a materialização do corpo e do espírito. A carne rebaixa o homem a um estado de maior animalidade, agressividade e ligação com seus instintos por despertar forças correspondentes à astralidade do animal durante o processo digestivo.
Como a criança ainda é um ser cósmico, que está chegando na Terra, a ingestão desse alimento não contribui para o despertar natural e saudável da sua individualidade.

Ovos

De acordo com a médica e escritora antroposófica Dr Gudrun, o ovo, assim como a carne não deveria fazer parte do cardápio infantil nos primeiros anos de vida. Sem dúvida, o ovo é uma das mais potentes fontes de proteínas, gorduras e ferro. Porém, qualitativamente, ele contém potente capacidade germinativa de formar um novo ser, portanto é um alimento altamente energético que atua na astralidade e na sexualidade do ser humano. O ovo deve ser introduzido gradativamente na alimentação da criança a partir dos 3 anos e liberado somente após os 5. Recomenda-se que inicie a oferta pela gema e mais tarde o ovo inteiro. Em seu consultório, a médica relata observar que as crianças alimentadas com ovos geralmente tornam-se inquietas, nervosas, muitas vezes dominando toda a família, não sabendo onde colocar tanta “energia”.

5.5 A alimentação como base para a vida social

A refeição, na antiguidade, possuía um significado todo especial. Não se tratava apenas de receber alimento no sentido físico, mas também de receber o “alimento espiritual”. A refeição comum estabelece laços sociais entre os homens, a própria palavra “companheiro” contém este elemento: com = comum / pan = pão.
Até hoje a refeição permeia a vida social dos homens. O alimento contribui para a formação de uma atmosfera de troca e alegria entre as pessoas e por isso está presente nas mais variadas situações: encontros amorosos, rituais de casamento, batismo, festas de aniversário, encontros para tratar de negócios etc. Quando as pessoas se sentam juntas em volta de uma mesa ocorre a união do espiritual que vem do alimento com anímico das pessoas, formando uma aura toda especial. É muito comum associarmos determinados alimentos com situações e sentimentos vividos num dado momento. A alimentação tem, portanto, a capacidade de assumir significados emocionais, tanto positivos quanto negativos. Podemos ser tomados de felicidade ao sentir o cheiro do bolo que nossa avó fazia quando éramos crianças e também podemos sentir náuseas e calafrios se nos deparamos com um alimento que esteve presente em uma situação desagradável da nossa vida.
Na história da arte podemos encontrar duas imagens arquetípicas que nos falam desse caráter social da alimentação, são elas: A Santa Ceia, onde Cristo reparte o pão e o vinho com os 12 apóstolos e a Távola Redonda do rei Arthur, na Idade Média.  Nelas, vislumbramos grandes virtudes sociais como: partilha, ponderação, gratidão, entre outras.
Assim também, no nosso dia a dia a refeição pode ser ou não uma oportunidade de encontro entre a família. Para isso é preciso criar um ambiente adequado de silêncio, tranqüilidade, sem correrias, televisão, telefone, rádio e demais fatores que invadem a vida do indivíduo moderno. Neste momento podem surgir conversas amistosas, verdadeiros momentos de pausa e encontro entre pai, mãe e filhos. O que importa não é a quantidade de alimento, mas a atitude das pessoas, principalmente dos adultos que sustentam o ritual.
Em relação às crianças, a refeição é um dos maiores instrumentos de educação das habilidades sociais. Desde o nascimento, a amamentação desempenha um papel muito importante ao criar uma relação de extrema intimidade entre a mãe e filho (a primeira relação social da criança) que nos faz perceber pela primeira vez que nós, seres humanos, precisamos uns dos outros e existimos uns para os outros. Mais tarde, na mesa, a criança observa atitudes como: respeito, veneração, capacidade de esperar a sua vez, disponibilidade para servir ao próximo, entre outras. Todo o ambiente é percebido atentamente por ela, a organização da mesa, disposição dos utensílios, o preparo e o cuidado com o alimento, a forma de se servir, os aromas, os sabores... todas essas impressões são registradas na alma da criança e levadas para a vida das relações.


6. Conclusão:

O tema desenvolvido neste artigo me suscitou grande interesse principalmente por causa do grande número de pais que queixam sobre a alimentação dos filhos. Em rodas de amigos e principalmente no ambiente do jardim de infância, no qual trabalho, surgem com freqüência, questionamentos e declarações do tipo: “ Joãozinho parou de comer”,
“Joãozinho não gosta de fruta e verdura, só come a carninha...”, e principalmente “ Mas ele adora chocolate, quê que eu posso fazer?”. Enfim, ouvindo comentários desse tipo e observando a conduta dos adultos em relação às crianças pude ver que é grande a insegurança dos pais em relação primeiro às necessidades da criança e segundo à forma de conduzir a alimentação nos primeiros anos de vida. Os pais parecem confusos diante de tantas informações disponíveis e não sabem discernir entre o essencial e o supérfulo.  Muitos demonstram grande medo dos filhos não comerem e não se desenvolverem de acordo com as tabelas de crescimento, outros não sabem como lidar com as preferências das crianças por doces e alimentos industrializados, outros parecem desconhecer por completo a importância de uma alimentação natural para a saúde, e outros não dispõe de tempo e interesse para tratar deste assunto. Enfim, esses e outros motivos acabam levando os adultos a cederem às vontades da criança que passa a decidir, por si mesmas, o que elas querem comer.
Além disso, pude perceber que são muitos os fatores que interferem na alimentação de uma família, entre eles destaco dois como os que mais me chamaram a atenção:
O primeiro se refere à perda do significado e dos rituais que permeavam a alimentação em outras épocas trazendo toda uma atmosfera sagrada para essa atividade. Como falamos ao longo deste artigo a alimentação é um dos retratos do desenvolvimento da consciência humana e à medida que a civilização tornou-se mais ligada à dimensão material o alimento também assumiu esta característica. Hoje, a ciência desenvolve fórmulas que contém todos os nutrientes de que o corpo necessita, mas se esquece da vida que permeia o alimento proveniente da natureza. A era industrial e mecanicista tem caminhado no sentido de transformar os alimentos em fórmulas prontas, práticas e desprovidas de vida. Há quem diga que dentro de alguns anos nos alimentaremos apenas de pílulas. Além disso, a entrada da mulher no mercado de trabalho e consequentemente a saída do lar e distanciamento dos cuidados em relação a ele contribuem para extinção dos hábitos de alimentação caseiros. A delegação dos cuidados da casa a terceiros e o ritmo desenfreado de trabalho dos adultos favorecem e estimulam esta forma de alimentação que vivemos hoje: comidas industrializadas, prontas e “mortas”. Comer se tornou mais uma das várias tarefas que temos de executar ao longo do dia. Entendo que o caminho para reverter essa situação será uma escolha individual de auto-educação e consciência. Cada homem precisará resgatar dentro de si o significado e a importância de voltar a se alimentar de forma espiritualizada.
O outro fator, que também se liga ao contexto descrito acima, diz respeito ao despreparo dos pais para agirem no dia a dia com as crianças. A forma como o alimento é oferecido, a expectativa do adulto que oferece o alimento, o ambiente, o ritmo e outros elementos também precisam ser considerados, uma vez que são os responsáveis pela formação dos hábitos alimentares na primeira infância. Deixarei aqui algumas orientações que podem servir de ajuda neste sentido:
  • Desde a amamentação, e de acordo com as necessidades da criança, deve-se buscar estabelecer um ritmo nos horários da refeição. O ritmo faz com que a criança se sinta segura ao longo do dia e contribui para a percepção das sensações de fome e saciedade que a criança vivencia no interior do seu próprio corpo. As crianças que “beliscam” o dia todo não conseguem sentir fome e por isso se interessam menos pela refeição.
  • O ambiente deve ser preparado e adequado às necessidades da criança. Deve-se zelar pela calma, tranqüilidade e silêncio neste momento. A utilização de ferramentas como televisão, músicas e brinquedos para distrair a criança favorece a aquisição de maus hábitos alimentares, além de suscitar na criança a impressão de que o alimento e a refeição têm um papel secundário e de menor importância.
  • A postura e a atitude do adulto que alimenta a criança são de suma importância. Segundo a pediatra húngara Emi Pikler, o adulto deve estar inteiramente presente e dedicado à criança durante os cuidados básicos com o seu corpo, tais como: troca de roupas, banho, alimentação e sono. Além disso, deve comunicar à criança, olhando nos seus olhos, tudo o que ele for fazer, por exemplo: “agora vou servir o seu prato e vamos nos sentar para almoçar”. Dessa forma pretende trazer a atenção da criança para o que está acontecendo e não distraí-la do processo.
  • Outra questão muito abordada pela pediatra Emi Pikler é a questão da autonomia. O adulto deve estar atento e conhecer a fundo as etapas do desenvolvimento infantil para oferecer à criança a autonomia na medida certa das suas capacidades. A criança pequena, inicialmente, deve ser alimentada no colo, envolvida pelos limites seguros dos braços do adulto. Então, gradativamente é convidada a participar mais das tarefas. Assim, após algum tempo passa a se sentar sozinha em sua cadeira, ganha uma colher para manusear o alimento, e vai ganhando autonomia até conseguir se alimentar sozinha inserida no ambiente dos adultos.
  • Da mesma forma, os alimentos oferecidos e os utensílios utilizados devem acompanhar o desenvolvimento da criança. As papas de fruta e sal devem ser substituídas por alimentos sólidos à medida que a criança seja capaz de mastigar. Os dentes devem ser estimulados, a partir do oitavo mês, com crostas de pão, cenoura crua e outros. Os líquidos devem ser oferecidos em colher ou copo, nunca em mamadeira por tudo o que já foi descrito anteriormente.
  • As crianças devem ser observadas e respeitadas em relação à regulação de seu apetite. Não se deve forçar a criança a comer nenhuma colher sequer, a mais do que ela comeria de bom grado. Além disso, jogos emocionais e permutas para a criança comer mais são completamente desaconselhadas, uma vez que associam o ato de comer a sentimentos de medo, necessidade de aceitação e recompensas.

Com este trabalho espero sensibilizar alguns adultos sobre a importância de buscarem resgatar o verdadeiro sentido e significado da alimentação. Oferecendo ferramentas para lidarem com a introdução desta prática na vida da criança pequena e na construção de hábitos mais saudáveis desde cedo. Dessa forma torna-se possível transformar uma realidade desfavorável novamente em uma prática consciente e permeada pela vida.

7. Referências Bibliográficas:

GOEBEL, WOLFGANG ; GLOCKLER, MICHAELA. Consultório Pediátrico: Um Conselheiro médico-pedagógico. Tradução Dr Sônia Setzer. 3ª Edição – 2002. São Paulo. Editora Antroposófica. 560p.

BURKHARD, GUDRUN. Novos Caminhos de Alimentação. Volumes 1,2 3 e 4.
5ª Edição. São Paulo: Ed Antroposófica. 2009.

BRUNO, MARIA LUCIA. Aroma, Paladar e Saúde: Orientações, receitas e cardápios da culinária antroposófica. São Paulo: Ed Antroposófica. 1992. 135p.

STEINER, RUDOLF/GLOCKLER, MICHAELA. Os Tipos Constitucionais nas Crianças: Três palestras de Rudolf Steiner comentadas em três conferências da Dr Michaela Glockler. 3ª Edição. São Paulo: Editora João de Barro. 2007. 93p.

HASSAUER, WERNER. O Nascimento da Individualidade: A gênese humana e a moderna obstetrícia. Tradução de Liselotte Sobotta. São Paulo: Ed. Antroposófica. 1987. 101p.

HECKMANN, HELLE. Jardim de Infância: Estruturando o ritmo diário segundo as necessidades da criança pequena. Tradução Jacira Cardoso. 1ª Edição. São Paulo: Ad Verbum Editorial. 2008. 47p.

NETO, CORINTIO MARIANI. Dicas sobre Aleitamento Materno. Projeto editorial e gráfico Casa Leitura Médica. São Paulo. 2010.

MAYSA HELENA DE AGUIAR. Crianças estão consumindo produtos industrializados antes dos seis meses. Disponível em: revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI80971-15149,00.html. Data de acesso 10 junho de 2011.

ANA PAULA PONTES. Anemia em crianças: Ministério da Saúde revela que 20% delas têm deficiência de ferro. Disponível em: revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI69886-15149,00.html. Data de acesso: 10 junho de 2011.

 


domingo, 13 de maio de 2012

O Currículo de Inglês nas Escolas Waldorf

Autor: Juliana Blaser



O CURRÍCULO DE INGLÊS DAS ESCOLAS WALDORF:
UMA SÍTESE DE INDICAÇÕES E SUGESTÕES

1.                  INTRODUÇÃO

O ensino de línguas estrangeiras é uma parte muito importante do currículo das escolas Waldorf e tem como objetivo principal fazer com que o aluno através da língua tome contato com outras formas de pensar e ver o mundo.
Amaral (2001) coloca que com base no estudo do ser humano, percebeu-se que é muito importante o aprendizado de outra língua para o desenvolvimento no âmbito do sentir. Assim, o ensino das línguas estrangeiras não tem como objetivo apenas a ampliação dos conhecimentos, mas sim a complementação e a intensificação do campo do sentir em pleno desenvolvimento. O estudo do idioma auxilia na ampliação do ponto de vista dando a conhecer através da língua o sentimento e os pontos de vista de outros povos o que contribuirá para e extinção de tendências racistas e nacionalistas preconceituosas. Para tanto é recomendado que se aprenda uma língua bem diversa da materna.
Segundo Taylor (1986) apud Amaral (2001) o indivíduo que se comunica em outro idioma adquire facilidade para o relacionamento e compreensão do próximo. O sentido da fala, da audição e do movimento também são trabalhados ampliando a compreensão social e de outra cultura.
Para Tromer (1999) apud Amaral (1996) ensinar língua estrangeira é uma importante tarefa: “Ao exercitar a mobilidade e flexibilidade do órgão fonador nas aulas de línguas estrangeiras a criança está adquirindo a flexibilidade anímica necessária aos relacionamentos sociais futuros.” (Tromer 1999). Em nenhuma outra matéria ela terá tanta possibilidade de abertura, interesse e compreensão pelo que é estrangeiro evitando o surgimento de ódios raciais e discriminação.
Leisinger (1949) apud Amaral (200l) considera incrível a prontidão da criança em fase escolar para a assimilação de novos conhecimentos. Nesta idade o interesse é diversificado e voltado para o novo desde que este seja apresentado de forma viva e evocando sentimentos já com o passar do tempo a ligação espontânea de objetos e processos a sons e denominações passa a ser mais refletida e intelectualizada.
Kiersh (1992) apud Amaral (2001) ressalta que é possível estimular por meio das línguas estrangeira habilidades que facilitam a aprendizagem geral como prontidão para avaliar dificuldades e problemas sem ansiedade, prontidão para arriscar moderadamente, autoconfiança, assertividade e capacidade de tolerar ambiguidade. O aprendiz bem sucedido sabe se comunicar sem inibição e não teme ser considerado incapaz. Está disposto a cometer erros quando seu objetivo é aprender e se comunicar e suporta um pouco de nebulosidade e falta de clareza.
Vale acrescentar que na pedagogia Waldof todos os conteúdos são planejados para estarem harmonizados entre si e atenderem às necessidades cognitivas, afetivas e espirituais das crianças em cada ano escolar. Assim é também muito importante que o conteúdo de todas as matérias sejam integrados e para isso é necessário que tanto os professores quanto os currículos estejam afinados de forma a proporcionar aos alunos uma visão mais ampla dos temas que serão por eles estudados.
Ainda que seja muito importante o estudo da língua estrangeira nas escolas Waldorf e embora haja um variado material sobre este tema ele se encontra fragmentado em capítulos de diversos livros e em anotações feitas por professores. Devido a este fato muitos professores de língua estrangeira que ingressam nas escolas Waldorf ficam perdidos com relação ao conteúdo com o qual devem trabalhar podendo até se afastar da proposta da pedagogia por desconhecimento.
Portanto, o presente trabalho visa reunir as indicações de alguns livros de pedagogia Waldorf quanto ao ensino de Inglês assim como recolher os relatos de professores e suas experiências e ainda propor algumas opções de trabalho que vão de encontro ao que está sendo ministrado pelo professor de classes.
Vale ressaltar que esta não é uma proposta fechada e sim uma sugestão para auxiliar aos professores de área a construírem sua própria maneira de ensinar adequada às classes com as quais trabalham.

2.                  METODOLOGIA

O presente trabalho contou com uma revisão bibliográfica, entrevistas assim como relato de experiência da própria autora como professora de Inglês de quinto ao nono ano no Jardim escola paineira.
Foram estudados os currículos propostos por Stockmeyer (1979) e Trommer (1999) (visto ambos são bastante utilizados com bases curriculares nas escolas Waldorf) além de revisados materiais específicos sobre o ensino da língua estrangeira nas escolas Waldorf.
Também foi utilizado o material recolhido no primeiro e no segundo congresso de professores de língua estrangeira da América latina realizado nos meses de outubro de 2007 e outubro de 2009 na escola Rudolf Steiner e ministrado pelo professor Crhistopher Jaffke autor de vários livros da área. Dentre este material está um currículo sugerido pelo professor Jaffke e relatos de experiência de professores.
Também foi utilizado material recolhido na escola conviver e bibliografia da área da biblioteca da escola pólen de Belo Horizonte.
As propostas de ligação entre os conteúdos foram feitas com base no material supracitado, na experiência da autora em correlação como as propostas dos currículos de Stockmeyer (1979) e Trommer (1999)

3. RESULTADOS

3.1  OS CONTEÚDOS GERAIS DE CADA ANO EM UMA ESCOLA WALDORF

Visto que o conteúdo estudado de inglês deve estar conectado a toda a matéria estudada tornou-se necessário criar um panorama geral dos conteúdos ministrados em cada ano em uma escola Waldorf. Para facilitar a observação da conexão do conteúdo de Inglês de cada ano com a matéria dada pelo professor de classe a tabela 1 apresenta resumidamente todos os conteúdos indicados no currículo de Stockmeyer (1979). Nos conteúdos em que há um asterisco existe discordância entre os professores de que ano dever ser dados.

Tabela 1: Currículo de Stockmeyer (1979) de forma resumida
Quinto ano
Português
Diferença entre a forma verbal ativa e a passiva. *
Mais que perfeito e futuro do pretérito
Aperfeiçoar o uso da pontuação.
Continuar a desenvolver a escrita de cartas e composições descritivas
Estudar os vários elementos de uma frase * (sexto ano?)
Sinônimos, antônimos, etc.

Geografia
Relações da terra com as plantas e animais
Paisagens
Polaridades: Fundo de mares X Alpes; Regiões quentes e frias, etc
Como o homem habita estas diversas paisagens
A cidade e o estado dos alunos OU geografia do Brasil (as indicações variam)

Matemática
Frações e decimais

História
Grécia e povos orientais

Ciências naturais
Zoologia e antropologia
Botânica
Sexto ano
Português
Orações conjuntivas
Redação de cartas deve passar para redações comerciais simples e claras.
Morfologia
Imperativo
Subjuntivo* (sétimo ano?)
Condicionais

Geografia
Seu país
O globo terrestre, os continentes, meridianos e paralelos
Climas e correntes marítimas e relevo.
América latina e do sul

Matemática
Passar para cálculos de juros, porcentagem, desconto e cálculo de câmbio começando, com isto, a álgebra.
Provas de teoremas geométricos
Desenhos geométricos com esquadro e compasso

História
Roma e idade média

Ciências naturais
Mineralogia e astronomia
Sétimo ano
Português
Subjuntivo/ sintaxe

Geografia
Prosseguir com o tratamento das condições astronômicas e começar com as condições culturais intelectuais dos habitantes da Terra, sempre em relação com as condições materiais, particularmente as econômicas, tratadas em geografia nos três primeiros anos do ensino de geografia. Com os conceitos da física e química já adquiridos, suscitar uma concepção resumida sobre condições de trabalho e de transporte, no decorrer da história.
Geografia de um continente que não seja o do aluno

Matemática
Introduzir potenciação e radiciação, bem como cálculos com números positivos e negativos.
Introdução da álgebra
Levar a geometria adiante, buscar as leis geométricas

História
Renascimento, Grandes navegações, reforma

Ciências naturais
Retornar ao ser humano e ensinar o necessário acerca de condições de nutrição e de saúde.
Suscitar uma concepção resumida sobre condições de trabalho e de transporte.
Oitavo ano
Português
Compreensão das relações existentes em textos mais extensos de prosa e poesia.
Ler algo dramático e algo épico.
Continuar o estudo dos tipos de orações
Não deixar de dar atenção, justamente no ensino da língua, ao aspecto comercial-prático.

Geografia
Apresentação resumida das condições da indústria e do transporte em relação com a física e química.

História
Revolução francesa, Napoleão revolução industrial e iluminismo, capitalismo e lutas operárias
Em alguns currículos sugere-se que chegue até a atualidade outros que os temas restantes sejam tratados no nono ano.*

Matemática
Continuar a exercitar potenciação e radiciação. Continuar o ensino de equações lineares também com várias incógnitas, e introduzir cálculos de formas geométricas e superfícies. Empregar o ensino de lugares geométricos sobre a secções cônicas e curvas semelhantes.

Ciências naturais
Abordar o ser humano de modo a apresentar aquilo que pode ser encontrado no seu exterior estruturando o seu interior, como a mecânica dos ossos, a mecânica dos músculos, a construção interior do olho etc. Acrescentar a isso uma apresentação resumida das condições da indústria e do transporte.
Nono ano
Português
Humor para revisar todos os conteúdos estudados

Geografia
Observação da estrutura das montanhas da terra de modo que possa surgir a representação de que a Terra é um corpo com organização interior. A seguir, tratar da movimentação das estrelas na direção da visada (o efeito Doppler).
Metrologia e mineralogia

História
A história dos séculos de XVI a XIX, para que os alunos obtenham compreensão para o presente

Matemática
Álgebra
Arranjo e combinação
Equações
Medições
Conceito de conjunto

Ciências naturais
Química orgânica
Fisiologia: imunologia, homeostase
Física: Princípio das máquinas elétricas

3.2  O ESTUDO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA DO QUINTO AO NONO ANO

Segundo Jafkke (2006) não se deve enfocar no estudo da língua estrangeira apenas seu aspecto formal ou comunicativo, mas também seu aspecto estético. Stockmeyer (1979) acrescenta que no trabalho com o Inglês é importante traduzir o mínimo possível e buscar tratar nas aulas da cultura, dos costumes, hábitos de vida e disposição anímica do povo estrangeiro levando em consideração as particularidades da maneira de se expressar deste povo. Para um contato mais vivo com a língua podem ser tratados conjuntamente de provérbios ou do tesouro de expressões idiomáticas da comparando com as correspondentes da língua materna além de trabalhar canções, poemas, histórias e lendas específicas do país, etc.
Deve-se acrescentar que os conteúdos devem ser ministrados forma viva e para que isto ocorra e a coleta de relatos de experiências que deram certo e a criatividade do professor são essenciais.  
Jaffke (1996 apud Amaral) coloca que crianças após o nono ano de vida não contam mais com a sensibilidade que permite adquirir por meio da imitação inconsciente uma pronúncia muito semelhante à de um “native speaker”. Taylor apud Amaral (2001) observa que após esta idade as crianças começam a dar entonação própria ao que dizem, como se o despertar da consciência modificasse a língua e por isso é necessário que o professor proponha muitos exercícios para tornar os órgãos fonadores mais flexíveis.
Segundo Jaffke (1996) apud Amaral (2001) é a partir do quarto ano que começa a aprendizagem mais formal de outras línguas e esta deve ser iniciada com a escrita. Inicialmente os alunos escreverão textos já conhecidos ou cartas aos falantes da língua-alvo, e progressivamente vão ganhando progressivamente maior habilidade, liberdade, fluência e independência na escrita. A escrita é trabalhada em inúmeros momentos tanto no relato das aulas, quanto no resumo de textos, na escrita de um diálogo ou de uma peça ou em aulas específicas para redação.
O ensino da língua estrangeira deve desenvolver as várias habilidades do aluno, ou seja, a compreensão do que é falado (listening), a escrita (writing) a capacidade de falar (speaking ou dialog), o aprendizado da gramática (grammar) e a aquisição de vocabulário. Sugere-se assim que existam duas épocas em cada semestre no Inglês uma época com ênfase na gramática e outra com ênfase em leitura, listenig e writing e entre elas intercalado a construção de diálogos e escrita de textos sobre situações quotidianas.
Quanto ao vocabulário Scott (1995) indica que sejam aprendidas uma média de 5 palavras por aula e para a introdução deste vocabulário pode-se utilizar desenhos, gestos ou jogos de mímica. Podem também ser feitas atividades de colocar a palavra junto ao objeto, encontrar palavras relativas a um determinado contexto ou fazer um “picture dication” ou bingo. Vale lembrar que o vocabulário deve estar associado ao tema mais amplo da aula (como o verso recitado, a música, o livro que está sendo lido ou o tema do dialogo).
A leitura pode ser realizada de várias formas de acordo com o grau de desenvolvimento e a características dos alunos. Os alunos podem, por exemplo, preparar partes do texto para lerem na aula, lerem em conjunto com o professor, cada um se preparar para ler como um personagem da história ou ainda o texto pode ser somente lido ou lido e dramatizado pelo professor. Os textos também podem ser trabalhados de forma que, após lidos os alunos possam teatralizá-los ou transmiti-los através de figuras para a classe. É importante que o vocabulário do texto tenha sido introduzido previamente. Para a finalização desta atividade é interessante que os alunos consigam recontar a história e responder perguntas sobre ela e que escrevam um pequeno resumo ou ilustrem a história no caderno. Para melhorar ainda mais a introdução de um novo livro pode-se mostrar fotos, falar sobre o autor, contar sobre o local em que a história ocorre, etc.
A leitura em voz alta pode ser trabalhada de inúmeras formas: o aluno lê com o professor, os alunos lêm em coro sem o professor, lêm sozinhos ou lêm de trás para a frente (neste caso a ênfase está na pronúncia). Podem também haver jogos de leitura como “errou parou” (quem erra para de ler e o outro começa) ou o professor pede para que achem uma palavra no texto e leiam a frase na qual ela está contida.
A criação de diálogos pode ser feita através da escrita ou da formulação de uma “peça” para a apresentação para os colegas.
O listening pode ser trabalhado através da compreensão de textos ou atividades de completar espaços com os temas relacionados. Também é muito produtivo quando um ou mais alunos cantam uma canção enquanto os outros tentam compreendê-la.
No oitavo e nono ano também é muito interessante dar liberdade para os alunos para que estes apresentem canções apropriadas. Há também a sugestão de se criar uma rádio novela com algum dos textos trabalhados anteriormente.
É importante que além de se voltar para a história o Inglês se ligue a temas práticos do dia a dia e para tanto os alunos podem criar diálogos ou escrever sobre estes temas.
Vale ressaltar que existe a indicação para a criação de um caderno de gramática e outro sobre a Inglaterra. Neste caderno constarão dados sobre a geografia e principalmente sobre a história da Inglaterra/ Estados Unidos (no caso do nono ano).
Eu particularmente utilizo um caderno para gramática, vocabulário e diálogos e outro para história, poemas, músicas peças e composições (pois estes seguem o mesmo fio condutor que é a história).
Stott (1995) coloca que o professor de línguas deve exercer uma “sanguindade planejada”. Toda a aula deve ser composta de “coisas antigas vestidas como coisas novas”. Aponta que uma aula deve incluir alguns dos itens a seguir: canções, poemas, diálogos, aritmética mental, momentos de fala, provérbios, histórias, leitura, escrita, ditado, compreensão oral, peças teatrais e gramática. As especificidades destes conteúdos (como o que será lido, escrito, o tipo de música, etc) podem estar em correlação direta com os conteúdos dados pelo professor de classe naquele ano. A composição destes conteúdos deve levar em conta o pensar o sentir e o querer e ser refeita a cada semestre, deve-se deixar alguns itens adormecidos para que possam ser trabalhados em outro ano.
Quanto à organização da aula esta segue o mesmo ritmo da aula principal respeitando a seguinte ordem: Cumprimento; ritmo; verso; fase do sentir (poemas, textos dramatizados, canções ou músicas); retrospectiva/ dever de casa; fase do pensar (treino de novo vocabulário ou gramática, leitura, produção de textos, diálogos); fase do querer e encerramento.
No primeiro momento o professor atua junto com os alunos, no segundo o professor pode ser um pouco mais atuante e no terceiro a criança será mais atuante.
O ritmo do quinto ao nono ano pode ser feito através de trava línguas, versos acompanhados de gestos ou comandos como “put your left hand in the air” ou “wal, run, etc”, “count from one to tem and clap your hands”, etc, canções ou poemas.
A apresentação do conteúdo novo varia de acordo com o objetivo da aula. Neste momento pode ocorrer o aprendizado da gramática, a leitura de textos, a escrita de um texto ou a criação de um diálogo ou o aprendizado de uma nova canção ou poema.
A parte do “fazer” está intimamente relacionada ao conteúdo anterior. O aprendizado da gramática pode ser procedido pela anotação deste conteúdo ou pela realização de exercício. Em classes maiores pode até se pedir pra que os alunos “ensinem” aos outros que estão com dificuldades.

3.3  CONTEÚDOS ESPECÍFICOS DE CADA ANO ESCOLAR

As indicações mais específicas para o ensino de gramática foram encontradas principalmente no currículo de inglês proposto por Jaffke (2006) foram enumeradas a seguir sendo complementadas por alguma correlação com o material estudado na língua materna. Observa-se que todos os conteúdos de inglês propostos no currículo já forma trabalhados ou estão sendo trabalhados no mesmo ano pelo professor de classe

3.3.1 O quinto ano

Stockmeyer (1979) coloca que no quinto passamos ocorre o estudo da sintaxe que será complicado no sexto ano. Em paralelo, deve ser sempre cultivada a leitura e a escrita de redações curtas.
Jaffke (2006) coloca que com 11 anos as crianças geralmente têm uma boa memória rítmica e podem aprender muito. É também idade que a beleza da língua deve ser cultivada pela entonação e pela melodia visto que neste ano predomina ainda a língua falada. Tromer (1999) acrescenta que os alunos desta idade gostam de pequenas competições e têm prazer em apresentar o resultado do esforço pessoal e que é importante observar as emoções que acompanham as aulas. É nesta idade também que se manifestam mais claramente as diferenças entre os alunos quanto ao dom e à disposição para o trabalho.
As lições devem ser vivas e cheias de variedade sendo que o professor pode encorajar as crianças a serem criativas e desafiá-las com poemas longo e canções difíceis. As crianças podem testar sua criatividade escrevendo pequenos textos ou poemas.
Jaffke (2006) coloca que o conhecimento de gramática dos alunos também aumenta na medida em que o professor expande os conteúdos estudados nos anos anteriores e que as palavras de vocabulário devem ser aprendidas e praticadas mais conscientemente. Trommer (1999) complementa que os elementos da gramática fortificam o eu e devem ser assimilados gradativamente até o oitavo ano e, mas lembra que dominar as regras da gramática e da ortografia não podem ser a única meta do ensino de línguas visto que as línguas atingem camadas mais profundas e contribuem para formar o aluno com ser humano.
As estruturas gramaticais novas são introduzidas na língua nativa. Somente depois que a gramática foi entendida é que as regras devem ser escritas em um livro simples de gramática na língua nativa e nas próprias palavras do aluno. Deve haver um caderno separado para gramática e um para o restante (Jafkke 2006).
O trabalho oral é continuado com perguntas e respostas e diálogos, exercícios de discurso e vários tipos de poemas. Recitar é um excelente mio de melhorar a pronúncia e a entonação e ajuda a melhorar o domínio do vocabulário.
Textos compostos pelo professor permitem recapitular e ampliar o vocabulário. É importante a compreensão do conteúdo, mas não a tradução literal. Quando um texto é lido pela primeira vez os alunos devem escutar primeiro e não acompanhar a leitura. O processo termina pela leitura com a pronúncia correta. Na leitura o aluno precisa entender o sentido essencial do texto e pronunciar bem.
Com os livros é importante introduzir as palavras novas antes que os alunos comecem a ler o texto. Tópicos relativos aos textos como mapas, contexto, etc podem ser trabalhados. Perguntas sobre o entendimento oral dos textos devem ser feitas durante as aulas e somente depois disso eles podem tentar responder às questões sozinhos.
É importante em todos os anos estar atento ao capricho do caderno, pois este é o “livro de inglês” de cada aluno e a escrita ou ilustração neste é a culminância de todo um processo de aprendizagem.

3.3.1.1 Formas de trabalho
-         Recitações, canções, poemas, histórias e peças
-         Leitura com livros de histórias

3.3.1.2 Gramática

-         Verbos irregulares em grupos sonoros
-         Formas dos verbos to be, go, have e do no presente e no passado
-         Presente simples e continuo/ passado simples e contínuo e futuro nas formas afirmativa, negativa e interrogativa.
-         Plural de substantivos e quantitativos (much, many, etc)
-         Question words: What, where, when, who, etc
-         Preposições

3.3.1.3 Objetivos na leitura e vocabulário

-         responder a questões simples sobre textos
-         Recontar as histórias com as suas próprias palavras
-         Reconhecer a diferenças de estrutura entre o inglês e o português
-         reconhecer os tempos verbais
-         Aumento do vocabulário

3.3.1.4 Diálogos

Como os alunos do quinto ano estão começando uma nova etapa no Inglês é interessante que os diálogos girem em torno das primeiras situações com as quais eles devem se defrontar como se apresentarem, chegarem a um país diferente, pedirem um taxi, chegarem a um hotel, etc.

3.3.1.5 Conteúdos para leituras e estudos culturais

Na época de matemática pode retornar o estudo das horas e de cálculos mentais simples em inglês para que os números não fiquem esquecidos. Podem também ser trabalhados os ordinais e os cardinais.
Com relação às ciências naturais é interessante retomar o vocabulário sobre animais e acrescentar alguns animais diferentes mais peculiares da região dos Estados Unidos e Inglaterra assim como pode ser contada uma história interessante sobre este tema.
Também podemos falar de como são especiais as plantas dos países frios como a Inglaterra e trazer músicas sobre isto como “Now the Green blade rise” e “english country garden”.
Com relação à história são estudados os povos orientais e a Grécia. Como a introdução à história da Inglaterra começa este ano é possível falar dos celtas e de suas lendas visto que este foi o primeiro povo que viveu na Inglaterra.
É importante ressaltar que a fala sobre os celtas pode se encaixar muito bem também no quarto anos, mas como a leitura e a escrita só começam no quito ano este tema acaba ficando melhor abrigado neste ano para que depois se possa dar a ele a devida continuidade.

3.3.2 Sexto ano:

No sexto ano ordem, estrutura e clareza são muito importantes. As crianças devem ser incentivadas a aplicar suas habilidades de pensar na linguagem. Nesta idade também pode ser mostrado para as crianças o quanto elas já aprenderam e o quanto ainda têm a aprender e é também interessante proporcionar atividades nas quais as crianças percebam seu progresso. Poesia ou peças dramáticas, heróicas ou humorísticas também têm um importante papel.
No sexto ano as diferenças individuais ficam mais marcadas e convém tratar as características dos vários povos como forma de mostrar as diferenças. O professor deve estar preparado para a ampliação das habilidades dos alunos assim como para proporcionar atividades para os vários níveis de habilidade o que não significa que as classes devem ser divididas em grupos visto que nesta idade a divisão não é benéfica.
As crianças precisam enfrentar a exigência da leitura de um texto desconhecido e serem capazes de responder a perguntas e repetirem o texto com suas próprias palavras. Também é interessante treinar o s prático da língua. (Tromer 1999)


3.3.2.1 Formas de trabalho

-         Recitações
-         Canções dramáticas
-         pequenos diálogos do dia a dia e diálogos dramáticos e humorísticos
-         Estudo da cultura

3.3.2.2 Gramática

-         Passiva no presente e no passado
-         O adjetivo e suas comparações
-         Condicionais
-         Present e past perfect
-         Advérbios e frases adverbiais

3.3.2.3 Objetivos:

-         Falar sobre eles mesmos e sobre o que foi falado em classe de forma mais fluente e livre
-         Reconhecer os tempos verbais estudados em textos e criar exemplos próprios
-         Compreender os termos gramaticais usados

3.3.2.4 Diálogos

Como os alunos do sexto ano estão começando a trabalhar transações comercias, câmbio, etc. Podem ser criados diálogos em estabelecimentos comerciais e de câmbio como o aeroporto, o hotel, uma loja, um supermercado, etc. Visto que os alunos estão estudando também a geografia de sua cidade, seu país, etc pode-se escrever sobre estes tópicos.

3.3.2.5 Conteúdos para leituras e estudos culturais

No sexto ano os alunos estão estudando astronomia, o planeta com seus continentes, meridianos e paralelos, mineralogia, Roma e Idade média.
Com o estudo de Roma e da Europa antiga pode ser introduzido um mapa da Inglaterra antiga com alguns pontos aonde se localizam as principais lendas como Camelot e Nottingham.
Posteriormente pode-se lembrar dos celtas que foram o primeiro povo que viveu na Inglaterra dando continuidade através da invasão romana à Brittania.
Quando se estuda a queda do império romano e as invasões bárbaras pode-se falar destas invasões que também ocorreram na Inglaterra pelos saxões, Vikings e normandos.
A imagem dos castelos e dos cavaleiros da idade média é muito forte na Ingleterra e este tema pode ser trabalhado numa ampla gama de formas desde canções até histórias. Duas figuras muito importantes neste período são a do Rei Arthur e a de Robin Hood.
Como sugestão os alunos podem fazer uma peça sobre o Rei Arthur que consta no livro “plays for waldorf school” e lerem o livro Robin Hood da editora Waldorf.
Quanto à astronomia e o conhecimento do planeta pode-se falar do céu no hemisfério norte e contar alguma história sobre Greenwish.

3.3.3 Sétimo ano

No sétimo e no oitavo anos deve-se dar a maior importância à leitura e à abordagem do caráter da língua em frases dos tipos que se apresentam no trabalho e na vida das pessoas que falam a língua em questão. Deve-se exercitar isso empregando textos e cuidar para que, por meio do recontar, a capacidade de expressão na língua estrangeira seja exercitada. Tromer (1999) acrescenta que no sétimo ano precisa ser treinada a fala individual e a pronúncia deve ser bem cuidada. Só esporadicamente devem ser feitas traduções. Em contraposição, deveríamos fazer recontar o que é lido, mesmo textos dramáticos (Stockmeyer 1979).
Deve se dado para a criança muita variedade de coisas para aprender assim como dar oportunidades delas mostrarem o que sabem fazer em testes e exercícios e ditados e o trabalho em grupo pode se utilizado.   O caderno deve ser muito bem cuidado. (Jaffke 2006)

3.3.3.1 Formas de trabalho

-         Continuar o estudo da cultura
-         Pequenas cenas dramáticas dos livros
-         Linguagem diária, coloquialismos

      3.3.3.2 Gramática

-         Modais e auxiliares
-         Pronomes
-         Organização da frase em sujeito, objeto e predicado

3.3.3.3 Objetivos:

-         Reconhecer as formas verbais (incluindo perfect)
-         Responder questões sobre os textos sem ajuda
-         Saber a ordem das sentenças

3.3.3.4 Diálogo

No sétimo ano os alunos começam a ver as condições diferentes de vida dos habitantes da terra. Também é falado da nutrição humana e saúde e isto é também válido para a Inglaterra. Pode-se falar de hábitos muitos diferentes dos nossos, das adaptações às diferentes temperaturas, assim como comidas típicas. Este tema de nutrição é interessante para a criação de diálogos em ambientes com restaurante, supermercado, feira ou até mesmo no médico.
Também no sétimo ano que o homem começa a se reconhecer como indiíduo e os alunos podem tratar em pequenas redações temas como ele mesmo, seu dia a dia, seus sonhos e até seus medos.

3.3.3.5 Conteúdos para leituras e estudos culturais

Quanto à história os alunos estão estudando o Renascimento, as grandes navegações e a reforma, absolutismo. Assim podem ser contadas algumas histórias de reis e rainhas utilizando, por exemplo o poema “kings and queens”. É interessante dar mais ênfase a Elizabeth que impulsionou as navegações e patrocinou Shakespeare.
O professor de Inglês pode também tratar nas jornadas aos Estados Unidos (como o Mayflawer, Francis Drake a Capitain John Smith) do dia de ação de graças, da marcha para o oeste, da igreja anglicana e dos puritanos.
Shakespeare também é um famoso renascentista cujos textos são valorosos no trabalho com o inglês.


3.3.4 Oitavo ano

Durante o ano escolar o professor deve preparar os alunos para um trabalho mais independente. Cada estudante deve conseguir falar oralmente de um tema de seu interesse e o professor deve ajudar somente quando for absolutamente necessário para a construção das frases e o uso do dicionário deve ser praticado.
No oitavo ano podem ser tratados os rudimentos da poesia e da métrica da língua estrangeira e ser dado um esboço muito breve da história da literatura da língua correspondente. (Stockmeyer 1979).
Visto que no oitavo ano os jovens e tornam mais conscientes de sua biografia, das suas fraquezas e capacidades. O professor escolherá textos relacionados com o destino, ideais de dignidade humana. Também podem ser tratados temas da atualidade.

 3.3.4.1 Formas de trabalho

-         estudo da cultura
-         pen pal
-         Continuar o estudo da cultura
-         Pequenas cenas dramáticas dos livros
-         Linguagem diária, coloquialismos
-         Praticar conversação em classe

 3.3.4.2 Gramática

-         discurso indireto e direto
-         passiva
-         Condicionais
-         Preposições e linking words

3.3.4.3 Objetivos:

-         reconhecer todas as formas verbais
-         ordenar frases corretamente
-         escrever textos pequenos com poucos erros
-         Conseguir se expressar no dia a dia
-         Recomendação do Christmas Carol

3.3.4.4 Diálogos

No oitavo e nono anos os alunos já estão no foco da individualidade e é interessante promover debates. Temas como as guerras podem sucitar debates sobre como resolver conflitos e temas como o Apartheid pode levar ao diálogo sobre o preconceito.

3.3.4.5 Conteúdos para leituras e estudos culturais

Neste ano será estudada a história passando pela revolução Industrial. Na geografia também é tratado das condições da indústria e do transporte.
Alguns professores chegam ao tema das duas grandes guerras.
Neste ano recomenda-se tratar da industrialização que ocorreu na Inglaterra, do crescimento econômico e das dificuldades vividas pela população.
Foi indicada a leitura o livro Oliver Twist.
Pode-se falar também do neocolonialiasmo inglês.

3.3.5 Nono ano :

No nono ano é feita uma recapitulação da gramática tratada com humor, oferecendo continuamente exemplos plenos de humor. O trabalho também deve focalizar o recitar com textos, por exemplo, de Shakespeare (Stockmeyer 1979).
No nono ano é trabalhada na matemática a conversão para moedas estrangeiras e o Inglês não pode deixar passar esta oportunidade. Pode ser estudada de forma divertida a conversão para várias moedas de países de língua inglesa.
Neste ano muda-se o foco da Inglaterra e passa-se o foco para os estados Unidos. Como neste ano estão sendo estudadas as biografias é muito interessante estudar a história dos EUA através de cartas.
Visto que os alunos já viram sobre o descobrimento dos EUA no sétimo ano agora pode-se falar sobre: as 13 colônias, a independência e a guerra civil e a questão racial do apartheid, “the underground railroad” entre outros.
Neste ano podem ser trabalhadas biografias como a de Martin Luther King ou o Livro Amstad.
Caso não tenha sido trabalhado no ano anterior pode ser tratado o tema das duas grandes Guerras, da Crise de 29 e da Guerra Fria envolvendo tanto Inglaterra como Estados Unidos.
Há recomendações de que se fale dos EUA no sexto sétimo e nono ano. No entanto pelo currículo de história achei adequado trabalhá-lo somente no sétimo e nono anos.

4        CONCLUSÃO

Buscou-se com este trabalho reunir um pouco de material do ensino da língua inglesa que se harmonize com o currículo Waldorf. No entanto, esta é apenas uma proposta em construção que pode e deve ser complementado com criatividade e conhecimento da antroposofia e do currículo por parte dos professores de línguas.

Bibliografia:

Amaral, N. F. 2001. O ensino de línguas estrangeiras na formação integral das crianças: Abordagem Antroposófica. In: V. J. Leffa (org). O Professor de Línguas: Construindo a Profissão. Pelotas: Educat.

Jaffke, C. (2006) Curriculum for Elglish as a foreign language in Steiner Waldorf Schools baseado em Pädagogischer Auftrag und Unterrichtsziele  von Lehrplan der Waldorfschulen. 2ed. Tobias Richted press, Stuttgart, 2006.

Stockmeyer Rudolf Steiners Lehrplan für die Waldorfschule (O currículo de Rudolf Steiner para as escolas Waldorf), 3ª edição apostilada de 1976

Stott, M. Foreign language teaching in Rudolf Steiner Schols Hawthorn press, Glouchestershire 1995.

Trommer Para a estruturação do ensino do primeiro ao oitavo anos nas escolas Waldorf/ Rudolf Seteiner