Autor: Patrícia Alvarenga Ferreira
Um
estudo sobre a alimentação infantil
segundo a antroposofia.
1. Resumo:
Este trabalho aborda o tema da alimentação da criança de 0 a 3 anos sob o olhar da
antroposofia, ciência espiritual criada por Rudolf Steiner no séc XIX. A
proposta de resgatar uma alimentação natural e saudável focada nas necessidades
de cada fase do desenvolvimento infantil é o principal assunto desenvolvido
neste artigo. Trata-se de uma exposição de como os alimentos atuam formando e
estruturando o corpo da criança através do amadurecimento dos sistemas
metabólico, rítmico e neuro-sensorial ao longo dos primeiros anos da infância.
Dessa forma propõe um caminho de reflexão sobre os prejuízos à saúde causados
pela má alimentação e algumas formas de sanar este problema.
2. Introdução:
A alimentação é um tema central na vida do homem e de grande relevância
na educação da criança pequena. É através dela que o ser humano obtém elementos
necessários à manutenção de sua existência física no mundo. Apesar disso,
constata-se atualmente que este assunto tem sido motivo de grande preocupação e
angústia para pais e educadores que, cada dia mais, precisam lidar com crianças
inapetentes, com distúrbios físicos e emocionais relacionados aos maus hábitos
alimentares.
Este artigo parte da constatação de uma realidade alarmante sobre a
alimentação infantil no Brasil e no Mundo. A crescente
oferta de alimentos industrializados, ricos em gorduras e açucares, antes mesmo
dos três meses de vida, tem contribuído para o aumento em larga escala dos
casos de obesidade infantil e doenças associadas como hipertensão, diabetes e
colesterol alto. A
obesidade infantil aumentou cinco vezes nos últimos 20 anos no Brasil. (Maysa
Helena de Aguiar/2011)
Outra pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde com crianças menores
de cinco anos, revelou que a
anemia afeta mais de 20% das
crianças no Brasil, e cerca de 17% têm deficiência de
vitamina A. Segundo o Ministério, essas duas deficiências
são de maior ocorrência no mundo, e podem reduzir a imunidade a infecções, além
de problemas de
desenvolvimento cognitivo e
psicológico. (Ana Paula Pontes/2011)
Estes dados se relacionam em grande escala com a baixa qualidade
alimentar que vem sendo praticada em todo o mundo, configurando um quadro de
desnutrição nos países subdesenvolvidos e hipernutrição nos paises desenvolvidos,
ambos com sérios prejuízos nutricionais.
Em seguida o texto aborda um caminho de reflexão e uma forma de atuação
embasado na teoria científica antroposófica, fundada por Rudolf Steiner
(Áustria 1861 – Suíça 1925) que desenvolveu inúmeros trabalhos práticos no
campo da educação, medicina, agricultura, arquitetura etc. Steiner estudou a
fundo a natureza humana e sua constituição ternária, dotada de corpo, alma e
espírito.
O trabalho contextualiza a ciência antroposófica, assim como o
significado da alimentação na vida do homem. Para as crianças este processo vai
desde a amamentação nos primeiros meses de vida, se desenvolvendo
gradativamente de acordo com o amadurecimento do seu organismo.
Para a Antroposofia, a qualidade de um alimento não está apenas no seu
valor nutricional, mas também na natureza supra-sensível que ele contém. O
conhecimento desta natureza é de suma importância para compreendermos como os
alimentos atuam na corporalidade humana estimulando ou inibindo as forças próprias
de cada individualidade.
Portanto, este trabalho pretende mostrar porque a origem dos alimentos
deve ser considerada ao elaborar um cardápio. Os alimentos que consumimos
deveriam vir da natureza, dos reinos mineral, vegetal e animal. Cada um deles terá uma atuação específica na
constituição ternária do homem, assim como na fase biográfica em que ele se
encontra.
Finalmente será abordado questões relativas à prática educativa das
crianças no que diz respeito à alimentação, aquisição de bons hábitos e
eliminação de fatores estressantes na conduta dos adultos referente a este
tema.
3.
Justificativa:
A reflexão sobre este tema se faz urgente nos dias de hoje tendo em
vista os indicadores sobre o aumento da obesidade infantil e demais disfunções
metabólicas que tem surgido na primeira infância. Carências de ferro, vitaminas,
cálcio, excessos na ingestão de sal e açúcar, alimentos industrializados e sem
qualquer valor nutritivo, são alguns dos fatores que contribuem para a formação
deste quadro. A falta de consciência por parte dos adultos, o distanciamento em
relação à natureza e seus processos, o ritmo acelerado da vida moderna são
alguns dos motivos que levam à configuração deste cenário desfavorável de
comprometimento da saúde humana. Portanto, faz-se necessário resgatar os
valores, significados e práticas da alimentação natural, ampliando as
possibilidades de transformação desta realidade.
A saúde é um requisito essencial para que possamos desfrutar a vida em
sua plenitude. Portanto, todas as práticas que objetivam não só a manutenção da
saúde como também a prevenção de doenças devem ser encorajadas.
4. Objetivo:
Este artigo tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica do
conteúdo antroposófico sobre a alimentação da criança de 0 a 3 anos e convidar todas as
pessoas que lidam direta e indiretamente com elas para refletirem sobre suas implicações
no desenvolvimento do ser humano. Busca conscientizar os adultos sobre a
importância de escolher o alimento adequado para cada fase de desenvolvimento
da criança. Pretende também construir um material de consulta para pais e
educadores na tentativa de incentivá-los a adotar uma conduta mais eficaz e
coerente com as necessidades nutricionais que garantem a saúde.
Durante os três primeiros anos de vida a criança constrói todo um
arsenal de sensações gustativas e os hábitos alimentares que a acompanharão por
toda a vida, e isso depende, em grande medida, da forma como o adulto significa
e conduz as refeições da criança desde a amamentação até a introdução dos
alimentos sólidos no seu cardápio diário.
Para alcançar este objetivo algumas questões serão abordadas, entre
elas: como se dá o primeiro contato da criança com o alimento; a importância do
aleitamento materno; fatores que interferem na boa alimentação; a refeição como
base para a vida social; características essenciais de alguns alimentos; entre
outros.
5. Metodologia
Este artigo foi elaborado utilizando como metodologia uma revisão
bibliográfica de conteúdos acerca da alimentação infantil dentro do universo
antroposófico. Foram consultados livros, revistas e outros artigos. Além disso,
consultas à internet e jornais foram usados para contextualizar a problemática
que gira em torno da alimentação infantil, assim como fornecer dados
estatísticos sobre esta realidade.
A prática no trabalho com crianças de 0 a 7 anos, em um jardim de
infância Waldorf, assim como a troca de experiência com os pais também
contribuíram para a formulação de questões e pensamentos a respeito deste tema.
5.1 Contextualização Teórica
A Antroposofia, ciência espiritual criada por Rudolf Steiner (Áustria
1861 – Suíça 1925) no séc XIX, tem como uma de suas principais características
a investigação supra-sensível do homem e da natureza que o cerca. Não entra em
contradição com o conhecimento científico, mas acrescenta a ele um enfoque
anímico espiritual buscando conhecer verdadeiramente as leis que regem o
universo.
Rudolf Steiner desenvolveu seus estudos baseado na concepção do homem
trimembrado e quadrimembrado. A trimembração diz respeito ao ser humano constituído
de três faculdades anímicas: Pensar, Sentir e Querer com as quais ele interage e
se comunica com o mundo. Para que cada uma destas faculdades anímica possa de
desenvolver e existir, encontramos, no corpo físico, um sistema correspondente.
São eles: Sistema Neuro-sensorial, Sistema Rítmico e Sistema Metabólico Motor.
Estes três sistemas são configurados em grande medida e amadurecem suas
funções durante os sete primeiros anos de vida, e frequentemente, a atividade
de um deles predomina sobre os outros. Por isso, é muito importante que o
adulto esteja atento e busque educar a criança equilibrando a atuação dos três sistemas
de forma harmoniosa. Nesse ponto a alimentação tem um papel fundamental.
O sistema neuro-sensorial encontra-se predominantemente na cabeça, sendo
representado pelo cérebro, nervos e órgãos dos sentidos. Aqui atuam as forças
da consciência relacionadas ao Pensar. Este pólo é constituído pela atuação das
forças de mineralização e morte, sendo algumas das suas principais
características o frio, a rigidez e a falta de movimento. Todas elas base para
o desenvolvimento do pensamento.
O sistema metabólico-motor, ao contrário, encontra-se predominantemente
na parte abdominal e nos membros, sendo portador da vitalidade do organismo. É
aqui que ocorrem os processos de manutenção da vida como digestão, secreção,
reprodução etc. Algumas características são: calor, vigor, movimento e ausência
de consciência. É através desse sistema que o homem desenvolve as forças do
Querer. O impulso para agir e atuar no mundo, o fortalecimento da vontade no
homem, provém do desenvolvimento desse sistema.
Entre os dois pólos encontramos o sistema rítmico, representado no tórax
por dois processos essenciais à vida: circulação e respiração. Este sistema,
intermediário, possibilita ao homem harmonizar e encontrar equilíbrio dentro de
si e em relação ao mundo. É através do Sentir que o homem avalia, por reações
de agrado ou desagrado, de simpatia ou antipatia, as impressões recebidas e
vivenciadas.
Quando lidamos com crianças é importante observá-las sempre com a
pergunta silenciosa: “Como estão relacionados os três sistemas nesta criança:”
Podemos dizer que quando a individualidade tem dificuldade de se
apropriar do sistema neuro-sensorial e de suas funções, temos uma criança,
denominada pela antroposofia “cabeça grande”. Tais crianças têm a tendência de
sonharem acordadas, estando afastadas das atividades terrenas que acontecem ao
seu redor. Geralmente, são mais sonolentas, dispersas, pouco ligadas aos
estímulos externos e mais conectadas com os processos internos, vitais,
principalmente ao que se refere à alimentação. Se por um lado cultiva uma vida
interior rica, cheia de imagens e sonhos, por outro, não consegue manter as
informações de forma clara em seu pensamento, de forma a tê-las a disposição
caso precise.
Se, por outro lado, a individualidade tem dificuldade de se apropriar do
sistema metabólico-motor, estaremos diante de uma criança “cabeça pequena”.
Neste caso, o sistema neuro-sensorial se sobrepõe e podemos observar uma
criança extremamente sensível aos estímulos externos, ligada em tudo o que
acontece ao seu redor. Geralmente estas crianças se tornam mais irritadiças,
impulsivas e agitadas. Os processos metabólicos não são saudáveis, são crianças
que comem de maneira voraz, apressada e irregular. O intestino também não
funciona corretamente, tendendo à prisão de ventre por causa dos movimentos
peristálticos preguiçosos. Parecem saber de muita coisa, mas na verdade possuem
limitações da capacidade criativa e de fantasia.
Mais adiante veremos como o uso do sal e do açúcar pode contribuir para
equilibrar e harmonizar a atividades desses sistemas orgânicos favorecendo o
trabalho da individualidade da criança no corpo físico.
Já a quadrimembração, nos remete ao processo de materialização do universo
ao longo de milhares de anos, à formação dos quatro elementos (terra, água, ar
e fogo), dos quatro reinos da natureza (mineral, vegetal, animal e humano) e
dos quatro corpos que constituem a natureza humana, são eles:
- corpo físico
- corpo etérico ou vital
- corpo astral ou das emoções
- Eu ou individualidade espiritual.
No presente trabalho, não entraremos em maiores detalhes a respeito da
trimembração e da quadrimembração, no entanto, esta nomeclatura será utilizada
para trazermos o tema da alimentação sob um olhar antroposófico.
5.2 A Alimentação na Antroposofia
A alimentação, segundo a antroposofia, é uma expressão do
desenvolvimento da humanidade e de sua consciência. Ela foi desenvolvida ao
longo de milhares de anos, assim como os nossos sentidos, para que o homem
pudesse lidar com a matéria do mundo no qual se encontra inserido. Diz que
quando o homem come, ele coloca o mundo para dentro de si, coloca matéria para
dentro de si, assumindo desta forma, também um corpo físico perecível e degradável.
Na medida em que a humanidade se desenvolveu, os corpos (físico, etérico,
astral e Eu) estabeleceram entre si formas de relações, onde o funcionamento de
um interfere e depende do funcionamento do outro e vice-versa. Quando, ao longo
de sua evolução, o homem começou a ter consciência de si mesmo o corpo astral
passou a ter uma ação catabólica e de desgaste sobre os corpos físico e
etérico. O pensamento consome energia, e esta realidade fez com que o homem
precisasse encontrar formas de restaurar, de repor sua vitalidade. Esta é uma
das principais razões pela qual precisamos nos alimentar.
Para a antroposofia, a relação que o homem estabelece com o alimento é
também um indicador, uma medida da vontade que ele tem de fazer parte deste mundo.
A maneira como nos alimentamos fortalece em maior ou menor medida o
funcionamento do corpo e o equilíbrio geral do organismo. Trás mais ou menos
vitalidade, sobrecarrega mais ou menos o metabolismo, enfim trás maior ou menor
saúde e bem estar ao indivíduo. Os alimentos atuam no organismo humano trazendo
qualidades e características inerentes à sua natureza que precisam ser
catabolizadas e transformadas dentro do nosso corpo. Para que isso ocorra é
preciso “acordar” no homem uma “força” correspondente ao alimento ingerido. Nós
não absorvemos diretamente a vitalidade do alimento, mas geramos vida em nós a
partir de uma ação de oposição às substâncias ingeridas.
“Não comemos para ter em nós este ou aquele alimento, mas sim para
podermos desenvolver em nós as forças que triunfem sobre o alimento. Comemos
para resistir às forças da Terra e vivemos sobre ela graças a esse contínuo ato
de oposição”. (Rudolf Steiner).
A alimentação é uma atividade ampla e complexa que exige que toda a
natureza humana se envolva no processo de digestão e absorção dos alimentos.
Isso nos remete a um fato de suma importância: o homem não nasce “pronto”, ele
precisa de tempo para tornar-se um ser livre e autônomo, em vários aspectos. A
criança, quando nasce, não conta com os corpos físico, etérico, astral e Eu
funcionando em toda a sua plenitude e autonomia. Estes são desenvolvidos ao
longo dos primeiros 21 anos de vida, período em que se educa uma
individualidade através do exemplo e do cuidado fornecidos por outro ser
humano.
Dos 21 aos 42 anos, a individualidade completamente encarnada no corpo
físico passa a se auto-educar e após os 42 tem início um outro processo
caracterizado pelo afastamento da dimensão material.
Considerando esta colocação, concluímos que a alimentação do homem deve
acompanhar a fase biográfica em que ele se encontra. Os alimentos devem ser
usados e pensados de acordo com as necessidades do organismo da criança, do
adulto e do idoso, uma vez que ela existe para servi-los.
Em relação às crianças isto é bastante sério. Como foi dito
anteriormente, a individualidade precisa de 21 anos para amadurecer e tomar
posse do seu próprio corpo. É só a partir daí que ela age com plena consciência
de si mesmo e de seus atos.
Portanto, quanto menor é uma criança, mais entregue, ela se encontra das
escolhas que os adultos fazem por elas. Escolhas estas que atuarão na
construção do seu corpo e da sua saúde por toda a vida.
5.3 O primeiro alimento da criança: O leite materno
Antes do nascimento, a criança encontrava-se completamente envolvida e
protegida pelo ventre materno. É admirável verificarmos quantos envoltórios
protegem o embrião:
- o líquido amniótico, no qual o feto nada durante todo o período de
gestação lhe garante uma confortável sensação flutuante, protegendo-o contra
solavancos e empurrões vindos do exterior, assim como o amortecimento dos seus
próprios movimentos dentro da barriga da mãe.
- o útero, um órgão muito especial e singular capaz de moldar-se para
abrigar uma nova vida em seu interior. Este grande músculo encontra-se suspenso
por diversos ligamentos dentro da estrutura óssea da região ilíaca da mãe
abrigando o feto até o momento em que iniciam as contrações que ajudarão na
expulsão do bebê. O útero é capaz de concentrar as forças oriundas do plano
supra-sensível permitindo-lhe criar e estruturar sua forma humana no plano
material.
- Um outro envoltório são as vísceras da mãe, especialmente as alças
intestinais, que além de proporcionarem o calor oriundo do metabolismo,
funcionam como amortecedor para o útero da gestante.
- Por último temos a parede abdominal com suas diversas camadas e a pele
formando uma delimitação que proporciona estabilidade e calor. Todos esses
envoltórios protegem o pequeno ser enquanto se forma e desenvolve no ventre
materno.
Então a criança nasce, e de repente, todos eles desaparecem. O corpo da
criança acha-se nu e totalmente desprotegido fora do corpo da mãe. Um novo
mundo lhe é apresentado, a criança vivencia as mudanças de tempo, espaço, peso
e temperatura ao seu redor. A luminosidade, os ruídos, os cheiros e os toques
penetram na alma da criança pela primeira vez trazendo vivências de dor, medo e
insegurança diante das profundas transformações.
Com a primeira inspiração o ar penetra nos pulmões fazendo com que a
criança chore e neste instante dois mundos (anímico-espiritual e o
físico-terreno) se unem num só corpo. A individualidade adentra o mundo
material e se submete às leis que aqui vigoram. O corpo precisará se adaptar a
muitos processos para manter-se vivo, entre eles a ALIMENTAÇÃO.
Segundo a Dr Gudrun, durante a gravidez a alimentação do feto tem
características primitivas, ocorrendo através do ambiente, dos invólucros que
citamos acima. Com o nascimento, e principalmente após o corte do cordão
umbilical, desfaz-se também a ligação concreta, material do bebê com a mãe e o
alimento materno vai entrar como elemento importantíssimo. No processo de
adaptação ao novo mundo, o LEITE da mãe é tudo que restou do abrigo anterior
que fora o ventre materno. A partir de agora é como se “A mãe toda vivesse no
leite”, como cita Rudof Steiner. O leite além de ser a composição alimentar
ideal para a criança, possibilita a transição do plano espiritual para o plano
terrestre. Junto com ele o calor humano, físico e anímico que se manifesta no
ato de amamentar vai formar o novo invólucro de segurança e proteção para a
criança.
Rudolf Steiner ainda nos chama a atenção para o fato de o leite trazer
em si as forças vitais cósmicas capazes de despertar pouco a pouco o espírito
que dorme na criança. A amamentação é, por isso, considerada o primeiro meio de
educação e o veículo para que o ser celestial se torne terrestre. Este período
é um tempo sagrado de sublimes acontecimentos no que diz respeito à encarnação
da criança e só passado algum tempo o educador (mãe, pai) será capaz de
continuar atuando sobre a volição da criança de forma a despertar cada vez mais
este espírito adormecido (consciência).
O bebê que é colocado logo após o parto em contato com a mãe procura
instintivamente pelo seio e suga-o com muita força e determinação. Essa
primeira sucção é a mais forte que existe e estimula a formação e a descida do
leite. A criança que, logo após seu nascimento, não tem a oportunidade de sugar
o seio materno pode ter comprometido todo um caminho de amamentação, visto que,
após algumas horas o reflexo de sugar do recém nascido diminui drasticamente se
não for estimulado.
Nos primeiros dias a substância que a criança ingere ao mamar é
denominada COLOSTRO. O colostro tem a cor amarelada e transparente, e apesar da
pequena quantidade, alimenta e protege o bebê contra infecções nos primeiros
dias de vida. Isso porque tem maior concentração de proteínas e anticorpos que
o leite propriamente dito e ainda estimula o intestino da criança a se
desenvolver. Ele é suficiente para manter a criança nutrida até a descida do
leite por volta do terceiro ou quarto dia de vida.
Após a descida do leite mãe e filho vão precisar de um tempo para se
adequar à nova rotina. No início, a quantidade de leite produzida é maior que a
necessidade da criança. É recomendável que o leite excedente seja retirado por
ordenha manual até que o corpo da mãe aprenda a produzir somente a quantidade
necessária para a sua criança.
Um outro aspecto importante em relação à amamentação diz respeito à
freqüência com que a criança tem acesso ao peito. Atualmente, é recomendação do
ministério da saúde que a criança seja alimentada no peito sempre que
manifestar essa vontade, sem horários fixos para iniciar, nem para terminar
cada mamada. Essa recomendação ficou bastante conhecida pelo nome de “livre
demanda”.
Por outro lado, a falta de ritmo em relação aos hábitos alimentares pode
ter sua origem neste período. As exigências da vida moderna, principalmente nos
grandes centros urbanos tem tornado um grande desafio para o homem encontrar
ritmos de trabalho, de lazer, de sono e de alimentação. Todas as funções vitais
do nosso organismo, no entanto, são rítmicas. A saúde e o equilíbrio do
indivíduo são baseados no ritmo e pequenos distúrbios desses ritmos vitais têm
levado o homem a sofrer das mais diversas patologias, tais como o próprio
câncer. Assim, na antroposofia, encontramos referências para que as mães
busquem estabelecer, ao longo dos primeiros meses de vida, uma rotina de
amamentação saudável e de acordo com a necessidade da criança, criando desde
cedo hábitos regulares nos horários de alimentação. Na verdade, a própria
criança, na medida em que se desenvolve cria um ritmo próprio de alimentação
para o qual a mãe deve estar atenta e respeitá-la.
É possível que surjam algumas dificuldades durante o período de
aleitamento materno como: ferimento dos mamilos, empedramento do leite,
sensação de que o leite não é suficiente para satisfazer a fome da criança e
outros. Todas essas questões podem ser contornadas se a mãe buscar as
informações corretas em relação à amamentação.
Algumas dicas, retirados do material elaborado pelo Dr Coríntio Mariani
Neto (Corintio 2010) serão destacadas aqui:
- O leite materno é o alimento ideal nos primeiros seis meses de vida,
pois contem todos os nutrientes necessários para garantir o melhor crescimento
e desenvolvimento do bebê. Nenhum outro complemento é necessário, nem mesmo
água ou chás durante este período.
- Protege contra doenças, principalmente diarréias, alergias e
infecções, sendo por isso considerado a “primeira vacina” da criança.
- O leite materno é digerido com mais facilidade e é melhor aproveitado
que o leite industrializado. Além disso, a eliminação de seus resíduos não
sobrecarrega o organismo do bebê, como acontece com o leite de vaca.
- É limpo e não contém micróbios, está sempre pronto e na temperatura
adequada.
- Sugar o peito exige um grande esforço por parte da criança
contribuindo para o desenvolvimento sadio do maxilar, correta formação da
arcada dentária, boa deglutição, desenvolvimento posterior da fala e correta
respiração.
- É a sucção do bebê que desencadeia e mantém a produção do leite,
portanto, quanto mais ele sugar, mais leite será produzido.
- Não existe leite fraco. O leite materno é o ideal para o bebê e toda
mãe é capaz de produzi-lo. Para isso a mãe deve ingerir muito líquido, cuidar
da sua alimentação e do seu estado emocional. A tranqüilidade e confiança da
mãe em relação à amamentação parecem interferir decisivamente na produção do
leite.
Segundo a médica e escritora antroposófica Gudrun Burkhard as
peculiaridades do gosto do leite materno fará com que gradativamente se
desenvolvam as papilas gustativas do neném. Ao contrário dos leites
industrializados e preparados que revelam sempre o mesmo gosto, o leite materno
apresenta uma diversidade de aromas e sabores à criança que, sendo assim,
desenvolve maior disposição e abertura para experimentar novos alimentos
futuramente.
5.3.1 O Desmame
O desmame também é muito importante e deve ser feito com calma e
consciência pela mãe. A recomendação do Ministério da Saúde é que o aleitamento
materno seja exclusivo até os seis meses de idade, podendo ser continuado até o
segundo ano de vida ou mais, se assim a criança e a mãe desejarem. Para a
antroposofia, o aleitamento materno deve ocorrer até os sete meses, podendo se
estender até um ano, quando então a criança deve ser desmamada, pois do
contrário ela se liga demasiadamente à corrente hereditária dos pais e da
família. Essa ligação excessiva pode passar a satisfazer outras necessidades
(por exemplo, emocionais) e dificultar que a criança desenvolva sua autonomia e
capacidade de dar continuidade ao processo de apropriação do próprio corpo. Durante
os sete primeiros anos a criança lida com uma importante tarefa, segundo Rudolf
Steiner, que é a de transformar toda a constituição física herdada em uma nova
constituição sintetizada a partir da sua própria força individual. As febres
infantis (aumento da temperatura corporal) são revelações dessa transformação
acontecendo no organismo.
5.3.2 A Utilização de Bicos Artificiais
De acordo com o material produzido pelo Dr Corintio Mariani (Corintio
2010) a introdução de qualquer bico artificial (mamadeira, chuca, chupeta) deve
ser evitada a todo custo, pois interfere na sucção do bebê contribuindo para o
desmame precoce.
A mamadeira, em especial, é considerada um grande vilão da amamentação.
A criança que tem contato com a mamadeira vivencia um fenômeno conhecido como
“confusão de bicos”. Como não é necessário fazer o mesmo esforço para que o
leite saia da mamadeira, a criança passa a sugar menos o peito o que diminui a
produção do leite e rapidamente a mãe tem a impressão de que o leite do peito
não é mais suficiente para alimentar a criança. Além disso, o uso da mamadeira
está sendo hoje atrelado ao aumento do índice de obesidade infantil por
contribuir para uma menor capacidade de auto-regulação do apetite. Isso
significa que os bebês alimentados com mamadeira desde cedo apresentam maior
dificuldade de sentir saciedade da fome, segundo revela uma pesquisa feita com
1250 bebês nos EUA pelo Centro de Controle e Prevenção de Doeças (CDC).
Existem dois problemas básicos que giram em torno do uso da mamadeira. O
primeiro diz respeito à anatomia e design desses instrumentos que não são
adequados às necessidades da criança. Por mais ortodônticos que sejam, os bicos
das mamadeiras interferem na formação da arcada dentária, induzem a criança a
mamar mais do que ela necessita (devido à maneira passiva como o líquido é
absorvido), são de difícil higienização, contribuindo para o aumento de
infecções na garganta e no trato intestinal e desestimulam o aleitamento
materno. O segundo diz respeito ao que é colocado na mamadeira para alimentar a
criança. Atualmente, o uso de farinhas e açucares para engrossar e adoçar o
leite tem sido cada vez mais oferecido pelos pais. Estas combinações, no
entanto, levam os pais a uma falsa crença de que seus filhos se alimentam
melhor. Por um lado, as crianças ingerem maior quantidade de leite (que
apresenta sabores doces e “gostosos”) por outro os preparados são verdadeiras
bombas calóricas que não oferecem os nutrientes adequados e necessários à
criança, principalmente se usados antes dos seis meses de idade. Além disso,
todas estas fórmulas que dizem substituir o leite materno, preparados de leite
em pó enriquecidos de vitaminas, minerais etc são sintetizados artificialmente,
sendo, portanto, desprovidos da vitalidade encontrada no leite materno como já
mencionado anteriormente.
Quando, por algum motivo, não for possível o aleitamento materno
exclusivo até os seis meses de idade faz-se necessário partir para uma
alimentação artificial.
Segundo descrito no livro “Consultório Pediátrico” de Wolfgang Golbel e
Michaela Glockler esta deverá ser o mais natural possível, dando-se preferência
aos leites naturais e não aos leites em pó ou condensados. Devido às diferenças
em sua composição e alto potencial alergênico, o leite de vaca deverá ser dado
seguindo um criterioso esquema de diluição e preparo que pode ser consultado no
livro descrito acima pág. 268.
Se for preciso acrescentar a alimentação artificial ao aleitamento
materno seria interessante que a primeira fosse oferecida em copinhos
apropriados ou colheres de chá para não desestimular a amamentação natural.
Após o desmame os outros alimentos líquidos como chás, sucos, água também
deveriam ser oferecidos na forma mencionada acima com a supervisão de um adulto
para que a criança não se habitue a tomar mamadeira desnecessariamente.
5.4 A Introdução dos Alimentos Sólidos
Passado o período dedicado ao aleitamento materno exclusivo é chegada a
hora de a criança começar a experimentar outros alimentos necessários para o
seu desenvolvimento.
A introdução desses novos alimentos deve ser gradual (no máximo um novo
alimento por semana, a fim de que o organismo da criança se prepare para
digeri-los e a mãe observe possíveis pré-disposições alergênicas) e respeitar o
estágio de desenvolvimento que a criança se encontra. Segundo a antroposofia, a
dieta da criança pequena deveria ser inicialmente lacto-vegetariana
(constituída de frutas, legumes, cereais, leite e seus derivados) e só a partir
dos 3 anos, alimentos de origem animal deveriam ser oferecidos de acordo com as
características e as necessidades da criança. Sobre este assunto falaremos mais
tarde.
Alimentos industrializados devem ser evitados a todo custo, pois roubam
força do organismo que precisa despender mais energia para reelaborá-los
interiormente. As crianças devem receber alimentos plenos de vida, os mais
naturais possíveis e adequados à sua faixa etária. Com o intuito de contribuir
para um maior esclarecimento desses alimentos e como eles devem ser oferecidos
à criança selecionamos alguns de maior importância para discutir neste
trabalho. Abordaremos principalmente seu caráter qualitativo e como eles atuam
no organismo da criança, separando-os, desta forma, de acordo com sua natureza
(mineral, vegetal ou animal).
5.4.1 O Reino Mineral:
O reino mineral está sujeito às leis físico-químicas, válidas apenas
para o mundo físico, material. Nele valem as leis da gravidade, peso, medida e
massa, enfim, o elemento quantitativo. Em tempos passados da Terra, este reino
ainda não tinha a forma atual, os minerais possuíam outras consistências que
não a que conhecemos hoje. Atualmente eles representam, segundo Rudolf Steiner
a imagem morta do cosmo. É nele que encontramos o estado final da matéria, a
substância. Aqui não existe crescimento, regeneração, vida. (Novos Caminhos de
Alimentação, vol. 1, pág 16).
O Sal
O sal é o maior representante deste reino na nossa alimentação. Trata-se
de um cristal, um elemento ligado às forças de mineralização da Terra. É uma
substância desprovida de vida e utilizada como condimento no preparo dos alimentos.
Antigamente, era muito usado na conservação das carnes.
Segundo a antroposofia, sua atuação no organismo humano se relaciona com
as forças de encarnação e de desenvolvimento da consciência.
Quando estamos diante de uma criança onde o sistema neuro-sensorial
precisa ser estimulado, ou seja, de uma criança cabeça grande, o uso do sal
poderá ser indicado como medida terapêutica. A sua atuação fortalece as forças
do Pensar fazendo com que a individualidade se ligue mais profundamente ao
mundo terreno.
O Açúcar
O açúcar será tratado aqui, por sua elevada propriedade de cristalização
e mineralização, semelhante a do sal, no entanto trata-se de um alimento proveniente
do reino vegetal.
A introdução dessas duas substâncias na alimentação do homem também
acompanhou o caminho de desenvolvimento da humanidade. O açúcar foi utilizado
primeiro, através do cultivo da cana de açúcar por volta de 8000 e 5000 a.C. Este é formado nas
partes verdes do vegetal, sendo armazenado em raízes, folhas, caules, flores ou
frutos sob a forma de amido ou frutose. É uma reserva de energia para o homem,
que pode utilizá-lo sem ter de efetuar um trabalho digestivo, o que acontece
quando o ingerimos em sua forma industrializada e refinada. Neste ponto,
trata-se de uma substância que não estimula a atividade vital dos órgãos como
os vegetais frescos, mas substitui, no organismo, uma substância que este é
capaz de produzir por si em quantidades suficientes quando goza de plena saúde.
As qualidades do ácido, do salgado e do amargo possuem todas elas uma
característica mais agressiva, estimulante. O doce, ao contrário, consola,
reconforta, envolve, tranqüiliza e dá apoio: também fortalece nossa
auto-percepção de modo imediato, e faz com que nos sintamos mais fortes e
dispostos em nosso corpo. Esse efeito provoca a tendência à freqüente repetição
da ingestão de açúcar. Sentimos o prazer do acréscimo momentâneo de força, sem
perceber a instalação do mau hábito, a perda energética que se segue e que
tentamos compensar novamente com uma quantidade maior de açúcar.
Atualmente, sofremos de um consumo crescente e exagerado de açúcar que
começa a deixar suas marcas na saúde da civilização moderna com o aumento
incisivo, sobretudo, da cárie dentária, do diabetes e da obesidade. Estudos
revelam que o aumento no consumo de açúcar passou de 28g por pessoa em 1900
para 150g por pessoa nos dias de hoje (Novos Caminhos de Alimentação, vol 1,
pág 138).
Na alimentação das crianças devemos evitar o uso do açúcar branco, uma
vez que os processos de refinamento e industrialização roubam-lhe toda a força
vital eliminando os sais minerais, vitaminas e microelementos que dão suporte à
atividade própria do organismo de elaborar o seu açúcar a partir do amido.
Quando isso acontece estamos substituindo o exercício da atividade metabólica
na criança pela oferta de uma substância de rápida absorção que causa
dependência e consequentemente predisposição a uma série de enfermidades, como
já foi explicado anteriormente.
O mais indicado seriam preparados de cana integral, que podem ser
obtidos em casas especializadas de produtos naturais. O açúcar mascavo
industrializado também passa por processos não recomendados, apenas os últimos
passos da purificação deixam de ser realizados. A lactose só é útil na fase de
lactente, pois tem menor poder adoçante. A frutose normalmente não tem
vantagens. A glicose leva a um aumento rápido da glicemia, pois não precisa ser
digerida, por isso é recomendada apenas em alguns casos específicos. O mel é
recomendado após 1 ano de vida e em quantidades moderadas, uma colher de chá
por dia misturada aos alimentos.
O ideal é que o organismo seja incentivado a elaborar o açúcar de que
necessita através da ingestão de vegetais e cereais. A vontade de comer doce
deveria ser suprida, sempre que possível, pela ingestão de frutas (secas e
naturais).
Quando estamos diante de uma criança onde o sistema metabólico-motor
precisa ser estimulado, ou seja, de uma criança cabeça pequena, o uso do açucar
poderá ser indicado como medida terapêutica. A sua composição altamente
energética estimula o funcionamento do metabolismo e fortalece o Querer
trazendo vitalidade para o organismo da criança.
5.4.2 O Reino Vegetal:
Quando tratamos do reino vegetal, a substância passa a obedecer também à
outras leis. Podemos dizer que a planta é a imagem viva do cosmo. Bircher
Benner apontou para o elemento qualitativo na alimentação dizendo: “Todos os
valores nutritivos, independentes de sua denominação – proteínas, gorduras,
hidratos de carbono, minerais ou vitaminas – são, em sua essência, tons ou
cores da luz do sol”. A planta é o resultado da interação entre as forças
físicas terrestres e as forças etéricas, cósmicas. Ao mesmo tempo que se ligam
à terra, acolhendo desta água e minerais; crescem em direção ao sol de onde
recebem calor e luz, dependendo dos dois pólos para se desenvolverem.
Explicar um pouco antes de colocar a citação
“Do ponto de vista alimentar,
interessa-nos a relação tríplice da organização humana e das plantas.
Poderíamos dizer que no homem encontramos a planta invertida, pois o processo
radicular (das raízes) tem a ver com o nosso sistema neuro-sensorial, o sistema
da haste e das folhas com o sistema rítmico, e o processo da flor e do fruto
com o sistema metabólico”. (vol 1 pag 40).
Na raíz encontramos os processos de absorção dos minerais responsáveis
pela estruturação e forma específica de cada vegetal. Daí partem os impulsos
endurecedores da planta. A raíz absorve os minerais desgastando a terra ao seu
redor, assim como o cérebro capta seletivamente os pensamentos desgastando
substância viva (queimando energia) no interior do nosso corpo. Nas folhas se passam os processos de
fotossíntese troca gasosa com o ambiente, assim como no homem o sentir se
relaciona com essa esfera mediana e de troca com o mundo. No caule os processos
de crescimento e repetição rítmica se assemelham à disposição de nossas
costelas em relação às vértebras da coluna.
Por último, nas flores e nos frutos encontramos a região onde se passam
as profundas mudanças metabólicas da substância, tais como a formação de
açucares, óleos, proteínas e vitaminas. Essa é também a região mais quente da
planta, calor semelhante ao encontrado no sistema metabólico motor. Tanto em um
como no outro acontecem também os processos ligados à reprodução.
Sendo assim, a ingestão de raízes atuará sobre o sistema nervoso humano,
a ingestão de caules e folhas sobre o sistema rítmico e a ingestão de flores e
frutos sobre o metabólico motor. Isso deve ser considerado ao pensar a
alimentação desde os primeiros anos de vida, na tentativa de harmonizar o corpo
através daquilo que ingerimos.
Frutas
Gudrun Burkhard fala em seu livro Novos Caminhos de Alimentação que as
frutas são as maiores fontes de vitaminas encontradas na natureza. Quando
atingem seu grau de maturidade, principalmente se colhidas na época certa,
concentram o máximo de forças vitais em seu interior. No homem atuam
especialmente sobre os processos formativos do sangue, renovando-os
constantemente, e também sobre a circulação. Ativam os processos metabólicos e
de calor do nosso organismo, estimulam o peristaltismo intestinal e é
considerada uma vitalizante primordial do organismo devido à concentração de
vitamina C (Burkhard 2009).
Segundo Dr Darlan Ferreira, em palestra proferida no curso de formação
em pedagogia waldorf de Belo Horizonte, é recomendado iniciarmos a oferta dos
alimentos às crianças pelos sabores adocicados encontrados nas frutas. É importante
cuidar para que estas sejam bem lavadas e de procedência conhecida, preferencialmente
orgânica, uma vez que pela primeira vez o organismo da criança vai entrar em
contato com outras substâncias e a ingestão de agrotóxicos, pesticidas,
bactérias e outros, poderiam ter uma ação devastadora no organismo infantil.
A fruta cozida ou assada é indicada para facilitar a digestão no
princípio, em seguida podemos oferecer em forma de sucos (laranja serra
d’água), amassadas (banana, mamão) ou raspadas (maça, pêra)
Após os primeiros experimentos, passamos a preparar uma papa mais
consistente e nutritiva que apresenta em sua composição os seguintes elementos:
- Uma fruta cozida ou assada (banana, pêra, maçã...)
- Um cereal integral cozido (arroz, aveia, trigo, cevada...)
- Uma oleaginosa (castanha do pará, avelã, amêndoa, nozes) ou uma
colherzinha de azeite.
- Uma outra fruta da época que não precisa ser cozida.
- Pode-se ainda acrescentar ameixa preta ou damasco, cozidos e algum
derivado de leite.
Legumes e Verduras
Após ter se habituado às papas doces, introduzimos na alimentação da
criança a papa salgada. Os legumes e verduras são reconhecidos pela sua ligação
com as diversas forças da natureza viva e fornecem toda uma riqueza de sais
minerais e micronutrientes ao organismo humano.
Alguns cuidados devem ser tomados no preparo das papas salgadas como por
exemplo o tipo de panela utilizado (as de alumínio e de pressão devem ser
evitadas), a quantidade de água adequada e o tempo de cocção de cada elemento.
Raízes levam mais tempo para cozinhar do que folhas e frutos. As sopinhas ou
papas devem ser acrescidas de algum cereal integral e uma pequena quantidade de
gordura: meia colher de chá de manteiga, óleo de girassol ou azeite de oliva.
Cereais
Os cereais começaram a ser cultivados na antiga civilização persa, em
torno de 5000 a.C
e desde então formaram a base da agricultura dando à humanidade novas condições
de vida e moradia. Do ponto de vista qualitativo os cereais distinguem-se pelo
fato de estarem sujeitos a uma exposição particularmente intensa e direta à luz
solar. Caracterizam-se ainda por permear intensamente a terra com suas raízes
unindo-se firmemente com o elemento mineral. Possuem a peculiaridade de não
dispersar suas sementes, mas de mantê-las unidas em forma de espigas. Essas
espigas são sustentadas pela planta tal qual uma coroa real, essa força de
sustentação tem ligação direta com o ser humano, ajudando-o a erguer-se e
adquirir a posição ereta no mundo, o que sabemos tornou-se a expressão do Eu, da
individualidade humana na Terra.
“Para os povos antigos, o ato de semear e colher os cereais eram
acompanhados de rituais sagrados – os grãos eram o presente do Deus Pai e da
Mãe Terra. De fato, as gramíneas (cereais) são as plantas em que as forças da
terra e do sol estão em equilíbrio” (vol 2 pag 124). É exatamente por este
motivo que atuam nos três sistemas do corpo humano: metabólico-motor, rítmico e
neuro-sensorial, ativando todo o organismo do homem em equilíbrio. Como
possui forte relação com a terra e com o elemento mineral carrega em si alto
teor de silícea que serve de intenso estímulo ao sistema nervoso e órgãos dos
sentidos. Rudolf Steiner descreve em sua “Filosofia da Liberdade” que o pensar
vivo só pode ser incentivado pela ingestão de cereais integrais. A atuação do
açúcar no cérebro também só é saudável quando este vem acompanhado pelo
complexo de vitamina B, encontrado na cutícula dos cereais. Caso contrário,
quando o açúcar puro entra no organismo, ele cai rapidamente na corrente
sanguínea e o cérebro fica exposto ora a um excesso de açúcar, ora a sua falta,
não podendo desempenhar suas funções de forma correta e equilibrada.
Todo o metabolismo também é estimulado pela ingestão de cereais
integrais. Sua alta taxa de hidratos de carbono é transformada em amido e
glicose. A queima da glicose produz o calor necessário para a atividade
muscular, os músculos são os instrumentos de nossa volição e atuação na Terra.
O fígado é estimulado, pois lá a glicose é transformada em glicogênio. Os
dentes são intensamente ativados através da mastigação, assim como as secreções
glandulares e salivares. A película dos cereais, rica em vitaminas, proteínas,
sais e semicelulose atuam no peristaltismo do estômago e intestinos. Também no
sistema rítmico, os cereais desempenham um papel importante, fortificando
coração e pulmão. O magnésio encontrado na película atua diretamente sobre o
funcionamento do coração, organizando o ritmo cardíaco. Também o ferro, tão
importante para o sangue e a oxigenação, é abundante no grão. Rudolf Steiner
numa palestra dada no Goetheanum disse: “O coração é luz condensada e é
estimulado pela alimentação rica em luz”, como vimos, trata-se dos cereais
integrais.
A importância de ser integral refere-se à capacidade de ativar
profundamente o metabolismo do corpo, dando suporte a uma integração harmoniosa
das suas funções. Quando ingerimos produtos processados as vitaminas, sais
minerais e demais micro-elementos são indistintamente eliminados, restando
muitas vezes apenas o amido. Em função disso, obtem-se um produto parcial,
altamente refinado, e ainda modificado por uma série de aditivos químicos
(conservates, corantes, etc) que o processo de industrialização lhe
acrescentou. Para metabolizar tal produto o organismo precisa fazer uso de suas
próprias reservas de vitaminas, sais minerais e microelementos.
Em função disso, recomenda-se que a alimentação da criança seja rica em
cereais integrais. Estes podem ser oferecidos por volta dos sete meses, nas
papas de fruta ou salgada como já foi citado. É importante que sejam bastante
cozidos no princípio para auxiliar no processo digestivo da criança que ainda
está em formação. Além
disso, os cereais apresentam correspondências com as qualidades planetárias que
determinam as qualidades de cada dia da semana. Rudolf Steiner em suas
palestras sobre agricultura biodinâmica, sobre medicina e sobre antroposofia
geral refere-se a essas forças planetárias e sua atuação sobre o Homem, sobre a
Terra e sobre os reinos da natureza. Estaremos estimulando o nosso organismo se
procurarmos nos alimentar com a maior variedade possível de cereais. Segue
abaixo a correspondência entre os cereais e os dias da semana:
Trigo Sol Domingo
Arroz Lua Segunda
Cevada Marte Terça
Painço Mercúrio Quarta
Centeio Júpter Quinta
Aveia Vênus Sexta
Milho Saturno Sábado
5.4.3 O Reino Animal:
Nos animais há um novo complexo de forças. Além da vida, existe agora
elementos como sensação, locomoção no espaço, instintos (de sobrevivência,
nutrição ou reprodução). Trata-se da incorporação de uma nova entidade,
denominado por Rudolf Steiner de corpo astral. A substância não é apenas
vitalizada como no reino vegetal, mas agora também astralizada, adquirindo,
portanto, qualidades e forças formativas diferentes do vegetal.
No reino animal tem início os processos de anabolismo e catabolismo. O
primeiro lida com forças construtoras que formam substâncias vivificantes e
regeneradoras. O segundo lida com forças de desgaste e destruição, gerando
assim, produtos de excreção que quando não eliminados tornam-se tóxicos para o
organismo.
Carnes
A utilização de carnes no cardápio infantil é bastante discutida e
existem controvérsias a seu respeito.
Quantitativamente, a carne é descrita como uma das principais fontes de
proteínas que conhecemos, além de ser rica em nutrientes como lipídeos, vitaminas
(complexo B) e minerais (como ferro e zinco). As proteínas são fundamentais
para o funcionamento do nosso corpo, pois é a partir delas que sintetizamos as
nossas próprias proteínas durante o crescimento e a renovação dos tecidos.
Segundo o especialista Pedro Eduardo de Felício, membro do comitê
técnico do SIC (serviço de informação da carne), a proteína da carne é a mais
completa por apresentar um perfeito equilíbrio de aminoácidos essenciais, isto
é, aqueles que o corpo humano não sintetiza a partir dos demais e que, por
isso, devem estar presentes nos alimentos ingeridos. Outros produtos de origem
animal, como os ovos ou o leite e seus derivados, também são fontes de
proteínas completas. Já as proteínas encontradas nos alimentos de origem
vegetal são deficientes em um ou mais aminoácidos essenciais e, portanto, devem
ser consumidas em combinação com cereais e leguminosas.
Qualitativamente, a antroposofia trás um olhar um pouco diferente. De
acordo com Goebel e Glockler no livro “Consultório Pediátrico” (2001), desde
que tornaram-se conhecidas certas doenças de deficiência protéica, causada pela
falta de certos aminoácidos essenciais, passou-se a dar uma atenção muito
grande ao consumo destas. Esses componentes protéicos especiais são encontrados
em abundância nos produtos de origem animal, mas também podem ser encontrados
(em menor quantidade) nas leguminosas, amêndoas e nozes.
O leite materno é um alimento com baixo teor protéico (cerca de metade
do leite da vaca) e é o alimento ideal para a primeira fase de vida.
Acredita-se que o consumo de proteínas (principalmente as de origem animal)
deva ser introduzido na alimentação da criança com parcimônia e gradualmente.
Sendo assim, a autora propõe que se siga com o modelo de nutrição oferecido
pelo leite materno até pelo menos os três anos de idade. As proteínas durante
essa fase deveriam provir de outros alimentos tais como os cereais integrais,
as leguminosas e os derivados de leite. Após os três anos, quando desponta na
criança os primeiros lampejos de auto-consciência, também se manifesta de modo
mais intenso o instinto individual para este ou aquele alimento. Neste caso, a
carne poderia ser introduzida de acordo com as características e a necessidade da
criança.
Nos países da América Latina, o consumo de carne é muito elevado,
naturalmente torna-se mais difícil e trabalhoso para os pais organizar um
cardápio com restrição de carne para as crianças, pela simples falta de hábito
e informação.
A carne vermelha, ao contrário do leite, é permeada pelo sangue do
animal o que faz dela um alimento altamente comprometido com as forças da
matéria. Na história, o consumo de carne se deu na medida em que o homem se
distanciou do mundo espiritual e se conectou com a materialização do corpo e do
espírito. A carne rebaixa o homem a um estado de maior animalidade,
agressividade e ligação com seus instintos por despertar forças correspondentes
à astralidade do animal durante o processo digestivo.
Como a criança ainda é um ser cósmico, que está chegando na Terra, a
ingestão desse alimento não contribui para o despertar natural e saudável da
sua individualidade.
Ovos
De acordo com a médica e escritora antroposófica Dr Gudrun, o ovo, assim
como a carne não deveria fazer parte do cardápio infantil nos primeiros anos de
vida. Sem dúvida, o ovo é uma das mais potentes fontes de proteínas, gorduras e
ferro. Porém, qualitativamente, ele contém potente capacidade germinativa de
formar um novo ser, portanto é um alimento altamente energético que atua
na astralidade e na sexualidade do ser humano. O ovo deve ser introduzido
gradativamente na alimentação da criança a partir dos 3 anos e liberado somente
após os 5. Recomenda-se que inicie a oferta pela gema e mais tarde o ovo inteiro.
Em seu consultório, a médica relata observar que as crianças alimentadas com
ovos geralmente tornam-se inquietas, nervosas, muitas vezes dominando toda a
família, não sabendo onde colocar tanta “energia”.
5.5 A alimentação como base para a vida social
A refeição, na antiguidade, possuía um significado todo especial. Não se
tratava apenas de receber alimento no sentido físico, mas também de receber o
“alimento espiritual”. A refeição comum estabelece laços sociais entre os
homens, a própria palavra “companheiro” contém este elemento: com = comum / pan = pão.
Até hoje a refeição permeia a vida social dos homens. O alimento
contribui para a formação de uma atmosfera de troca e alegria entre as pessoas
e por isso está presente nas mais variadas situações: encontros amorosos,
rituais de casamento, batismo, festas de aniversário, encontros para tratar de
negócios etc. Quando as pessoas se sentam juntas em volta de uma mesa ocorre a
união do espiritual que vem do alimento com anímico das pessoas, formando uma
aura toda especial. É muito comum associarmos determinados alimentos com
situações e sentimentos vividos num dado momento. A alimentação tem, portanto,
a capacidade de assumir significados emocionais, tanto positivos quanto
negativos. Podemos ser tomados de felicidade ao sentir o cheiro do bolo que
nossa avó fazia quando éramos crianças e também podemos sentir náuseas e
calafrios se nos deparamos com um alimento que esteve presente em uma situação
desagradável da nossa vida.
Na história da arte podemos encontrar duas imagens arquetípicas que nos
falam desse caráter social da alimentação, são elas: A Santa Ceia, onde Cristo
reparte o pão e o vinho com os 12 apóstolos e a Távola Redonda do rei Arthur,
na Idade Média. Nelas, vislumbramos
grandes virtudes sociais como: partilha, ponderação, gratidão, entre outras.
Assim também, no nosso dia a dia a refeição pode ser ou não uma
oportunidade de encontro entre a família. Para isso é preciso criar um ambiente
adequado de silêncio, tranqüilidade, sem correrias, televisão, telefone, rádio
e demais fatores que invadem a vida do indivíduo moderno. Neste momento podem
surgir conversas amistosas, verdadeiros momentos de pausa e encontro entre pai,
mãe e filhos. O que importa não é a quantidade de alimento, mas a atitude das
pessoas, principalmente dos adultos que sustentam o ritual.
Em relação às crianças, a refeição é um dos maiores instrumentos de
educação das habilidades sociais. Desde o nascimento, a amamentação desempenha
um papel muito importante ao criar uma relação de extrema intimidade entre a
mãe e filho (a primeira relação social da criança) que nos faz perceber pela
primeira vez que nós, seres humanos, precisamos uns dos outros e existimos uns
para os outros. Mais tarde, na mesa, a criança observa atitudes como: respeito,
veneração, capacidade de esperar a sua vez, disponibilidade para servir ao
próximo, entre outras. Todo o ambiente é percebido atentamente por ela, a
organização da mesa, disposição dos utensílios, o preparo e o cuidado com o
alimento, a forma de se servir, os aromas, os sabores... todas essas impressões
são registradas na alma da criança e levadas para a vida das relações.
6. Conclusão:
O tema desenvolvido neste artigo me suscitou grande interesse
principalmente por causa do grande número de pais que queixam sobre a
alimentação dos filhos. Em rodas de amigos e principalmente no ambiente do
jardim de infância, no qual trabalho, surgem com freqüência, questionamentos e
declarações do tipo: “ Joãozinho parou de comer”,
“Joãozinho não gosta de fruta e verdura, só come a carninha...”, e
principalmente “ Mas ele adora chocolate, quê que eu posso fazer?”. Enfim,
ouvindo comentários desse tipo e observando a conduta dos adultos em relação às
crianças pude ver que é grande a insegurança dos pais em relação primeiro às
necessidades da criança e segundo à forma de conduzir a alimentação nos
primeiros anos de vida. Os pais parecem confusos diante de tantas informações disponíveis
e não sabem discernir entre o essencial e o supérfulo. Muitos demonstram grande medo dos filhos não
comerem e não se desenvolverem de acordo com as tabelas de crescimento, outros
não sabem como lidar com as preferências das crianças por doces e alimentos
industrializados, outros parecem desconhecer por completo a importância de uma
alimentação natural para a saúde, e outros não dispõe de tempo e interesse para
tratar deste assunto. Enfim, esses e outros motivos acabam levando os adultos a
cederem às vontades da criança que passa a decidir, por si mesmas, o que elas
querem comer.
Além disso, pude perceber que são muitos os fatores que interferem na
alimentação de uma família, entre eles destaco dois como os que mais me
chamaram a atenção:
O primeiro se refere à perda do significado e dos rituais que permeavam
a alimentação em outras épocas trazendo toda uma atmosfera sagrada para essa
atividade. Como falamos ao longo deste artigo a alimentação é um dos retratos do
desenvolvimento da consciência humana e à medida que a civilização tornou-se
mais ligada à dimensão material o alimento também assumiu esta característica.
Hoje, a ciência desenvolve fórmulas que contém todos os nutrientes de que o
corpo necessita, mas se esquece da vida que permeia o alimento proveniente da
natureza. A era industrial e mecanicista tem caminhado no sentido de
transformar os alimentos em fórmulas prontas, práticas e desprovidas de vida.
Há quem diga que dentro de alguns anos nos alimentaremos apenas de pílulas.
Além disso, a entrada da mulher no mercado de trabalho e consequentemente a
saída do lar e distanciamento dos cuidados em relação a ele contribuem para
extinção dos hábitos de alimentação caseiros. A delegação dos cuidados da casa a
terceiros e o ritmo desenfreado de trabalho dos adultos favorecem e estimulam
esta forma de alimentação que vivemos hoje: comidas industrializadas, prontas e
“mortas”. Comer se tornou mais uma das várias tarefas que temos de executar ao
longo do dia. Entendo que o caminho para reverter essa situação será uma
escolha individual de auto-educação e consciência. Cada homem precisará
resgatar dentro de si o significado e a importância de voltar a se alimentar de
forma espiritualizada.
O outro fator, que também se liga ao contexto descrito acima, diz
respeito ao despreparo dos pais para agirem no dia a dia com as crianças. A forma
como o alimento é oferecido, a expectativa do adulto que oferece o alimento, o
ambiente, o ritmo e outros elementos também precisam ser considerados, uma vez
que são os responsáveis pela formação dos hábitos alimentares na primeira
infância. Deixarei aqui algumas orientações que podem servir de ajuda neste
sentido:
- Desde a
amamentação, e de acordo com as necessidades da criança, deve-se buscar
estabelecer um ritmo nos horários da refeição. O ritmo faz com que a
criança se sinta segura ao longo do dia e contribui para a percepção das
sensações de fome e saciedade que a criança vivencia no interior do seu
próprio corpo. As crianças que “beliscam” o dia todo não conseguem sentir
fome e por isso se interessam menos pela refeição.
- O ambiente
deve ser preparado e adequado às necessidades da criança. Deve-se zelar
pela calma, tranqüilidade e silêncio neste momento. A utilização de
ferramentas como televisão, músicas e brinquedos para distrair a criança
favorece a aquisição de maus hábitos alimentares, além de suscitar na
criança a impressão de que o alimento e a refeição têm um papel secundário
e de menor importância.
- A postura e a
atitude do adulto que alimenta a criança são de suma importância. Segundo
a pediatra húngara Emi Pikler, o adulto deve estar inteiramente presente e
dedicado à criança durante os cuidados básicos com o seu corpo, tais como:
troca de roupas, banho, alimentação e sono. Além disso, deve comunicar à
criança, olhando nos seus olhos, tudo o que ele for fazer, por exemplo:
“agora vou servir o seu prato e vamos nos sentar para almoçar”. Dessa
forma pretende trazer a atenção da criança para o que está acontecendo e
não distraí-la do processo.
- Outra questão
muito abordada pela pediatra Emi Pikler é a questão da autonomia. O adulto
deve estar atento e conhecer a fundo as etapas do desenvolvimento infantil
para oferecer à criança a autonomia na medida certa das suas capacidades. A
criança pequena, inicialmente, deve ser alimentada no colo, envolvida
pelos limites seguros dos braços do adulto. Então, gradativamente é
convidada a participar mais das tarefas. Assim, após algum tempo passa a
se sentar sozinha em sua cadeira, ganha uma colher para manusear o
alimento, e vai ganhando autonomia até conseguir se alimentar sozinha
inserida no ambiente dos adultos.
- Da mesma
forma, os alimentos oferecidos e os utensílios utilizados devem acompanhar
o desenvolvimento da criança. As papas de fruta e sal devem ser
substituídas por alimentos sólidos à medida que a criança seja capaz de
mastigar. Os dentes devem ser estimulados, a partir do oitavo mês, com
crostas de pão, cenoura crua e outros. Os líquidos devem ser oferecidos em
colher ou copo, nunca em mamadeira por tudo o que já foi descrito
anteriormente.
- As crianças
devem ser observadas e respeitadas em relação à regulação de seu apetite.
Não se deve forçar a criança a comer nenhuma colher sequer, a mais do que
ela comeria de bom grado. Além disso, jogos emocionais e permutas para a
criança comer mais são completamente desaconselhadas, uma vez que associam
o ato de comer a sentimentos de medo, necessidade de aceitação e
recompensas.
Com este trabalho espero sensibilizar alguns adultos sobre a importância
de buscarem resgatar o verdadeiro sentido e significado da alimentação.
Oferecendo ferramentas para lidarem com a introdução desta prática na vida da
criança pequena e na construção de hábitos mais saudáveis desde cedo. Dessa
forma torna-se possível transformar uma realidade desfavorável novamente em uma
prática consciente e permeada pela vida.
7. Referências
Bibliográficas:
GOEBEL, WOLFGANG ; GLOCKLER, MICHAELA. Consultório Pediátrico: Um
Conselheiro médico-pedagógico. Tradução Dr Sônia Setzer. 3ª Edição – 2002. São
Paulo. Editora Antroposófica. 560p.
BURKHARD, GUDRUN. Novos Caminhos de Alimentação. Volumes 1,2 3 e 4.
5ª Edição. São Paulo: Ed Antroposófica. 2009.
BRUNO, MARIA LUCIA. Aroma, Paladar e Saúde: Orientações, receitas e
cardápios da culinária antroposófica. São Paulo: Ed Antroposófica. 1992. 135p.
STEINER, RUDOLF/GLOCKLER, MICHAELA. Os Tipos Constitucionais nas Crianças:
Três palestras de Rudolf Steiner comentadas em três conferências da Dr Michaela
Glockler. 3ª Edição. São Paulo: Editora João de Barro. 2007. 93p.
HASSAUER, WERNER. O Nascimento da Individualidade: A gênese humana e a
moderna obstetrícia. Tradução de Liselotte Sobotta. São Paulo: Ed.
Antroposófica. 1987. 101p.
HECKMANN, HELLE. Jardim de Infância: Estruturando o ritmo diário segundo
as necessidades da criança pequena. Tradução Jacira Cardoso. 1ª Edição. São
Paulo: Ad Verbum Editorial. 2008. 47p.
NETO, CORINTIO MARIANI. Dicas sobre Aleitamento Materno. Projeto
editorial e gráfico Casa Leitura Médica. São Paulo. 2010.
MAYSA HELENA DE AGUIAR. Crianças estão consumindo produtos
industrializados antes dos seis meses. Disponível em: revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI80971-15149,00.html.
Data de acesso 10 junho de 2011.
ANA PAULA PONTES. Anemia em crianças: Ministério da Saúde revela que 20%
delas têm deficiência de ferro. Disponível em: revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI69886-15149,00.html.
Data de acesso: 10 junho de 2011.